SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Palavra Solta - chuva, silêncio, escuridão...


*Rangel Alves da Costa


Chove lá fora, como diz Lobão. Aqui não faz tanto frio senão a gelidez do silêncio e da solidão. Já é noite fechada, com ruas desertas e luzes amareladas descendo nos postes. A chuva faz com que todos se mantenham recolhidos e com portas e janelas fechadas. De vez em quando eu vou até o portão e ali permaneço por uns cinco minutos, olhando ao longe, avistando ao redor, deixando o olhar se perder perante o asfalto molhado. Estou sozinho, absoluta e completamente sozinho. Não tenho com quem falar nem ouvir sua voz. Os retratos emudeceram e as lembranças se recolheram por medo de minha fúria solitária. Não quero sofrer com lembranças e recordações. Os retratos sempre me chegam como entes dolorosos que jamais posso alcançar. E não quero sofrer assim. Mas não há jeito. Sempre atormenta estar numa noite assim, de silêncio, de chuva caindo e de solidão. Não quero taça de vinho nem dose de qualquer bebida. Não quero veneno nem fel como tempero de nada. Bebo da lágrima que não cai e me farto do rio que escorre n’alma. Quem sou eu numa noite assim? Um pingo de chuva, todo pingo de chuva que cai e escorrendo vai pelos gemidos agonizantes da noite.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

Nenhum comentário: