SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



terça-feira, 19 de setembro de 2017

Palavra Solta - chore


*Rangel Alves da Costa


Não precisa represar a dor. Chore. Não precisa aprisionar o sofrimento. Chore. Não precisa esconder a tristeza. Chore. Não precisa fingir alegria e contentamento se o coração apertado é só desalento. Chore. Não precisa cantar se a boca quer soluçar. Chore. Não precisa mostrar ao próximo uma face radiante e feliz se dentro da alma há um abismo que insiste em puxar a mão. Chore. Não precisa dizer que está tudo bem, que não há nada a preocupar, que está no conforto da paz. Chore. Não precisa usar óculos escuros para esconder o olhar que incessantemente lacrimeja. Chore. Não precisa mostrar-se forte, indestrutível, inabalável, se o que lhe se sustenta é tão frágil quanto uma linha prestes a se partir. Chore. Não precisa dizer que não chora, mentir que não chora, fingir que não chora. Chore. Pessoas que sofrem por dentro não querem chorar. Por quê? É preciso chorar. Pessoas com a alma de luto não querem chorar. Por quê? Chore, é preciso chorar. Melhor chorar a ter o íntimo encharcado de gritos e agonias pelo silêncio forjado. Melhor chorar a ter a represa da alma de repente rompida e de dentro sair a própria vida. A lágrima representa uma verdade do coração, ainda mais quando os motivos são tão claros como o próprio sofrimento. Chore porque chegará um lenço. Com o lenço uma mão amiga. Com a mão amiga a palavra, o afeto, o conforto. Tudo aquilo que aplaca a lágrima e transforma o choro em compreensão do destino. Por isso chore. Nunca deixe que sua lágrima permaneça guardada para chorar por si mesma. Chore, sem vergonha e sem medo. Apenas chore. E chore toda a lágrima e todo o soluço que houver para chorar.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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