SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quinta-feira, 27 de julho de 2017

Palavra Solta - Dona Mariá


*Rangel Alves da Costa


Dona Mariá, originária da família Feitosa, uma das mais numerosas e ilustres de Poço Redondo, é uma das mais respeitadas e queridas mulheres nascidas na terra das beiradas do Jacaré. Ainda entre nós, graças a Deus, já faz algum tempo que se mudou do centro da cidade, na Rua Prefeito João Rodrigues, para a Avenida Alcino Alves Costa, indo morar com sua filha Neide. Talvez a idade avançada e a aflitiva solidão, tenham afastado Mariá dos olhos de todos aqueles que passavam pelas proximidades da Câmara de Vereadores e da Praça Eudócia. Ela não é mais avistada na sua calçada nem porta adentro, mas é como se ali permanecesse na memória de tantos. Sim, eis que Mariá é mulher que carrega em si um mundo de histórias sertanejas. Na sua luta incessante pela sobrevivência, um dia foi desde lavadeira a muitos outros ofícios, juntando pedaços de ganhos para o pão de cada dia. Sempre morando no centro da cidade, ladeada de novos e velhos amigos, porém teve de suportar a perda de filhos e viu sua solidão aumentar pelas ausências forçadas pelo destino. Sobre ela há uma história bastante interessante e que merece ser recontada. Nos anos 70, quando uma caravana de cantadores e sanfoneiros estava em Poço Redondo para uma apresentação (Clemilda, Gérson Filho, João do Pife, Messias Holanda, Pedro Sertanejo, Marinês, Elino Julião e muitos outros), o então prefeito Alcino Alves Costa passeava ao lado de Messias Holanda, quando o sanfoneiro achou interessante uma mulher passando com uma trouxa de roupas para lavar na cabeça. Então Alcino, sempre amigo da sertaneja, chamou Mariá e a apresentou ao artista e compositor. E não demorou muito para surgir um grande sucesso: “Pra onde vai com essa trouxona de roupa Mariá, na cacimba só tem água pra beber. Pouca água deixa a roupa mal lavada Mariá. Lavar roupa também tem o que aprender. Bota pouco pano nessa trouxa Mariá, nesse tempo não tem água pra gastar, leve a colcha, eu preciso dessa colcha, abra a trouxa, bote a colcha, leve a colcha pra lavar...”. Atualmente, ao entardecer, Mariá é sempre avistada na calçada de sua filha, silenciosa, pensativa. Um passado, vidas e vidas em sua memória.



Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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