*Rangel Alves da Costa
Não é poesia, é verdade: sou o silêncio da
pedra e o grito silencioso da pedra. Dura, esquecida no meio do tempo, sem
amigo que chegue pra prosear, vencendo o sol e a chuva, eis a pedra. Pedra
incompreendida, evitada, indesejada, malvista, culpada por tudo. Ora, sempre
dizem que há uma pedra no meio do caminho, que no meio do caminho há uma pedra.
Tida como insensível, embrutecida, arrogante, impenetrável demais. Contudo,
apenas uma pedra. E esta pedra senão o meu eu petrificado na beira da estrada,
no meio do mundo, nos beirais da vida. Quem me avista há de dizer que viu uma
pedra. Não tenho palavras. Não tenho carinho. Não tenho afetos. Não tenho
carícias a oferecer. Somente sou assim por que somente sou assim. Ano após ano
e chega a ventania a me açoitar, ano após ano e chega a tempestade a me
encharcar, ano após ano e chegam os redemoinhos e os vendavais querendo me
açoitar. As pessoas fazem assim também. Ninguém chega para sentar ao meu lado e
filosofar a vida. Ninguém chega e ao redor de mim canta uma canção tão bela e
tão antiga. Ninguém reconhece a pedra senão como um estorvo. Mas melhor que
seja assim. Eles passarão e eu, mesmo em pó transformado, aqui continuarei. Por
enquanto sou apenas o silêncio da pedra e o grito silencioso da pedra.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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