SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Palavra Solta - fio da navalha


*Rangel Alves da Costa


A navalha é ríspida, é bruta, é voraz. A navalha é arrogante, é violenta, é insensível. A navalha é cortante, é flamejante, é sanguinária. A navalha é odiosa, é tediosa, é aflitiva. A navalha é espinhenta, é quentura, é fornalha. Nela, na navalha, há ânsia e desejo de ferir, de matar, de sangrar, de esvair a vida. Mas não temo a navalha. Temo muito mais um olhar, uma voz, um silêncio. Eu que já andei por cima de brasa viva, já caminhei por cima de pedras e espinhos, já escaldei em caldeirão de fogo, já bebei do veneno mais mortal, ainda assim prefiro tudo isso novamente a um olhar, uma voz, um silêncio. E não deixo de ter razão. O fio da navalha me sangra, mas a cura não é demorada. O fio da navalha me lanha a pele, mas logo estarei sarado. E o olhar, a voz, o silêncio? Nada mata mais que um olhar maldoso, frio, covarde. Nada estraçalha mais que uma voz que chega com cano e espoleta. Nada dizima mais que o silêncio premeditado, calado somente até o grito eclodir. Prefiro, assim, a navalha. Ou o fio da navalha que apenas marca e não acaba.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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