SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



domingo, 13 de novembro de 2016

Palavra Solta – “vixe que muié gaieira da gota!”


*Rangel Alves da Costa


Na cidadezinha todo mundo sabia e comentava – menos o marido logicamente – da fama mal afamada da mulher. Vivia de boca em boca nos piores dizeres, nas piores assertivas, em comentários mais espicaçados que aqueles comumente proferidos contra as frequentadoras da casa da luz vermelha. Mas a má fama da mulher tava dum jeito que até o padre já tencionando em chamá-la à atenção nos ajoelhamentos do confessionário. Temia, porém, que ela abrisse a boca para dizer a verdade e todo o templo sagrado ficar profanado. Pelas ruas, esquinas, janelas e portas, contudo, os assuntos não eram outros. Uma dizia: “Vixe que muié mais gaiteira da gota, uma fia da égua que faz o coitado do marido trabaiá cada vez mais pra ela putiá cada vez mais”. Já outra assevera: “Nem puta é mais safada que aquela zinha. Muié que abre a janela pra homem entrar deveria tá era nos cabaré, e não se dizeno dona de casa”. E ainda outra, que não media palavras e conceitos: “Puta, quenga, rampeira, xibiuzuda, tudo se pode dizer daquela rabuda desavergonhada. Aquilo num era nem pra dizer que é casada. Cuma já se viu uma casada que abre as perna pra qualquer um?”. Mas tais pessoas, quase todas das vizinhanças, teriam motivos para tais afirmações? Ninguém sabe ao certo, pois coisas desse tipo, envolvendo traição e raparigagem, dificilmente são comprovadas, principalmente pelo marido corneado. Aliás, o traído nunca vê nada. Quando vê, releva por amor. Quando ouve, diz que é tudo mentira, aleivosia. E sendo sempre o último a saber, muitos até não querem nem saber. Quando sabem, não acreditam. Quando se torna impossível não acreditar, então preferem se acostumar. Por amor, tudo por amor.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com 

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