SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Palavra Solta - o diário da solteirona


*Rangel Alves da Costa


Ela guardava o diário com o maior cuidado do mundo, dentro de baú, enrolado em panos, trancado de cadeado. Mas um dia saiu pra missa e esqueceu não só a porta do quarto aberta como o baú. Talvez avexada para mais uma promessa a Santo Antônio, o padroeiro das titias e desvalidas de macho, eis que acabou deixando de passagem aberta seu maior segredo: o baú. Uma sobrinha mais que curiosa, não demorou muito e enveredou pelo mundo da tia solteirona. Assim que avistou o baú, logo levantou a tampa para encontrar o diário envolto em mordaças. Então leu: “Hoje amanheci mais estranha do que outros dias. Sinto-me tomada por um fogo estranho, me subindo as entranhas, quase me enlouquecendo. Mas sei que é falta de homem. Se macho eu tivesse, esse meu fogo não queimava desse jeito, apenas esquentava num calorzinho bom. Mas uma coisa é certa: se esse fogo continuar não responderei pelos meus atos, pois sou capaz de correr nua atrás de macho, gritando pela rua que me jogue no chão e me possua. Com fogo ou sem fogo, a verdade é que qualquer dia farei desse jeito. Já que homem não vem, então vou atrás de qualquer um...”. A própria sobrinha estremecia ante os relatos. Mas lhe veio à mente a maldade. Conseguiu uma foto de um homem nu e colocou na primeira página do diário. Quando a solteirona retornou e percebeu a imprudência cometida ao ter deixado a porta aberta, a primeira coisa que fez foi correr em direção ao baú. Ao abri-lo e encontrar o homem nu no seu diário, arregalou os olhos, estremeceu, e caiu estatelada. Morreu de pernas abertas.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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