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segunda-feira, 4 de julho de 2016

QUANDO PARECE QUE DEUS SE DISTANCIA DA GENTE


*Rangel Alves da Costa


Às vezes, depois de tanto tempo pedindo, rogando, implorando, ajoelhando-se aos pés do altar, fazendo flamejar velas e louvações, tudo parece desanimar quando nada acontece, quando nada é resolvido, quando os mesmos tormentos continuam afligindo a alma e todo o ser.
Não é por falta de fé, de orações, de missas e silenciosas e aflitivas conversas perante as imagens dos santos e anjos e da divindade maior. Não é por falta de crença e esperança, pois sempre há a certeza que as graças divinas logo chegarão em auxílio. Mas ainda assim nada acontece.
Também não é pela religiosidade de momento ou pela busca de Deus somente em estados de precisão e necessidade. Do mesmo modo, não é pela fé extravasada apenas ante as carências, os perigos e as atribulações. É fé contínua e permanente, firme na crença e no poder de Deus. Mas ainda assim nada modifica o estado já desesperador.
Verdade que muitas pessoas se valem das preces e obediência aos ensinamentos somente quando estão desafortunadas. De repente, uma forçada e exacerbada religiosidade. O seu Deus, contudo, se torna força apenas para aquele momento, para aquela determinada situação, pois depois de o problema resolvido tudo será esquecido. Nenhuma prece sequer. Contudo, a situação é outra.
A pessoa exala verdadeiramente a sua fé, tem consciência do seu dever de amor e obediência a Deus e aos seus ensinamentos, e assim age em todos os momentos da vida. Foge do pecado, é fiel aos mandamentos, procura se manter numa existência digna de reconhecimento sagrado. Mas quando mais precisa mais se sente abandonada por aquilo que tanto confia.
E se indaga: O que mais devo fazer para ser ouvido e auxiliado por Deus? Onde errei na minha fé, na minha pregação e na minha obediência, que agora preciso de ajuda e nada obtenho como resposta de salvação? Quantas preces, quantas velas, quantas promessas, quantas lágrimas haverei de derramar para que o meu clamor seja ouvido?
Deus, meu Deus, por que me abandonaste?! Em situações assim, não há como fugir de tal indagação. Será que mereço sofrer tanto até ser ouvido, será que preciso me exaurir de corpo e alma até que a dádiva sagrada chegue em meu auxílio, será que terei o martírio das horas, dos dias e do tempo, até que sobre mim recaia uma benção? Não há como não se indagar, já no limite de chegar à plena desilusão.
Sim, mas a religião católica e os ensinamentos litúrgicos sempre dizem que o Deus de bondade nunca está distante ou se distancia daquele que tem fé e se mostra um filho fiel. A igreja sempre prega que a hora de Deus é sagrada e que tudo deverá acontecer no momento certo. Mas por que tanto sofrimento, tanto padecimento, tanto martírio?
Não raramente que pessoas desistem de suas igrejas, de suas Bíblias, de sua fé. Não por que tenha a fé e a devoção como atos de retribuição, mas por que simplesmente se sentiram abandonadas nos instantes que mais precisavam de ajuda divina. Não que merecessem ou desejassem que milagres acontecessem nas suas vidas, mas tão somente que recaísse uma luz perante suas vidas em escuridão.
O ser humano é frágil demais, tudo lhe traz dor e sofrimento. O homem faz da fé, da crença e da devoção, exatamente um sustentáculo ante seu frágil poder existencial. Não é nenhum Jó bíblico que sempre suporta as aflições e padecendo vai até as derradeiras consequências porque acredita no amor de Deus. Sim Jó suportou, foi atendido, mas o homem é frágil demais.
Até quando suportar, se entra dia e sai dia, com as preces e os clamores aumentando, e nenhum sinal de tempo bom pela estrada? Até quando suportar um mundo de aflições se tudo cessaria ou diminuiria com um simples querer divino? Deus escuta, mas parece não ouvir os rogos e clamores. E o que fazer então, quando as angústias se acumulam e a pessoa, solitária na sua dor, se vê sem nenhuma saída?
É diante de situações assim que somos menores em tudo. E até inexistentes na esperança. Deseja-se apenas um olhar, um sinal, um auxílio sagrado. Mas parece que Deus se distancia de nossa existência. E, sem Deus, esperar em Deus que o Deus ressurja como chama de ressurreição. Não há outra fé. Não há outra saída.
Esperar na fé, pois diz o Salmo 37: Confia no Senhor e faze o bem; habitarás na terra, e verdadeiramente serás alimentado. Deleita-te também no Senhor, e te concederá os desejos do teu coração. Entrega o teu caminho ao Senhor; confia nele, e ele o fará. E ele fará sobressair a tua justiça como a luz, e o teu juízo como o meio-dia. Descansa no Senhor, e espera nele...
Esperar em Deus. Jó soube esperar. Mas o sofrimento pode não cessar e o homem é frágil demais. E mais uma vez repete: Deus, meu Deus, por que me abandonaste?!


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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