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A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



segunda-feira, 25 de julho de 2016

Palavra Solta - café batido em pilão e coado pela velha mão


*Rangel Alves da Costa


Sou apaixonado por café. Gosto dele forte, encorpado, negro retinto, sem açúcar. A qualquer instante do dia, principalmente no madrugar quando acordo, nada mais confortante que sentir o seu sabor. Sou forçado, contudo, a beber café solúvel, em sachê, desses de qualquer prateleira. O que me alenta, entretanto, é sempre sorvê-lo relembrando de outro café, de outro gosto, de outro sabor. Recordo de um velho café coado por uma velha mão, sertaneja, conterrânea e amiga. O galo ainda cantava quando o pilão já ecoava sua batida. Era ela batendo o café para levar à chaleira em fogão de lenha. Chaleira não, um verdadeiro caldeirão de tão grande, pois os pedidos da vizinhança eram tantos que ela tinha de se esforçar para não ficar sem o seu orgulho do amanhecer. Assim, batia o grão do café no pilão, depois peneirava para despejar o pó já na água fervente. Então logo subia pelo ar uma festança de aroma, inconfundível, oloroso, gostoso. Depois que a água olorosa e negra subia de querer se derramar pelas beiradas, então ela tirava do fogão e se punha a coar, já na boca do bule. O cheiro avisava que já estava pronto para ser servido. À porta, gente batendo e pedindo para entrar, de xícara à mão, com olho pidão. E ali mesmo começava a sorver a graça do amanhecer, tudo no café batido em pilão e coado pela velha mão.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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