SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



segunda-feira, 25 de julho de 2016

O REDEMOINHO


*Rangel Alves da Costa


Pequenos problemas, mas que acabam se avolumando porque não resolvidos. Coisas simples de serem solucionadas, mas quando postergadas provocam consequências as mais danosas e desgastantes possíveis.
“E lá na distância apenas uma aspecto diferente no ar. Parecendo formação um pouco mais espessa de poeira, como um pequeno torvelinho localizado, nada parece assustar, senão pela sua aparência de crescimento e movimento...”.
As perdas, as distâncias, tudo isso causa muito sofrimento e dor. Mas não que se assentem na alma para o restante do viver. Ninguém pode fugir aos instantes de tristeza, de aflição e melancolia, porém não se deve abraçar o punhal que fere como melhor conforto.
“Ainda está muito distante. Contudo, pelo que se avista, o chão arenoso parece subir em cone pelo ar e depois girar em se mesmo, mais forte, com força maior cada vez mais. De repente, o espesso funil começa a se arrastar e vai avançando em açoite feroz...”.
Os dias amanhecem sombrios, por vezes. No coração, um desalento danado. Nada fez para despertar assim, nenhum motivo aparente para que assim aconteça. Uma vontade de chorar, uma vontade de soluçar embaixo dos travesseiros, uma vontade até de sumir. Mas vale a pena alimentar o dia com esta gota de veneno do alvorecer?
“Ao longe, apenas uma ventania forte, porém localizada. No seu centro, um turbilhão, e uma nuvem de poeira pelos arredores. Parece ter vida própria, pois se alonga, se alastra, vai rapidamente seguindo e levando consigo tudo o que pela frente encontrar...”.
Um adeus inesperado, uma perda tida como irreparável. Nunca se compreende    que a vida é destino e fim, é um chegar e partir, é um sorriso e uma despedida. E faz da lágrima a vida, e faz da dor a existência, e consumindo se vai até não mais ter forças para reagir. Como folha ao vento, vai se deixando levar no que lhe resta viver.
“Sua proximidade já é visível, sentida, inafastável. O que se imaginou apenas uma formação de areia, agora se mostra verdadeira ameaça. É areia, é vento, é sopro, é força, é avidez de destruição. Vai levantando pedra por onde passa, vai derrubando tudo no seu caminho...”.
Sim, uma simples saudade. Saudade boa, pois amorosa, de vontade e desejo de reencontrar. Mas o tempo passa, nada de reencontro, nada de retorno, nada de abraços e palavras. O que aconteceu? Imagina-se que tudo acabou sem um fim. Então a saudade se transforma em tormento, o tormento em desespero, o desespero em loucura...
“Nada fica em pé no seu caminho, a não ser seu próprio cone que, cada vez mais forte e voraz, avança cada vez mais rápido. Destroços são avistados ao fundo, pelo ar são divisadas nuvens empoeiradas. Sem destino certo, arremete ziguezagueando, cobra feroz levantada no ar...”.
Poucos compreendem a esperança como caminho de salvação. Alguns, por já terem esperando tanto, acabam desistindo dos sonhos e planos. Outros, já descrentes nas suas possibilidades, se entregam aos desconsolos e aflições. Em pessoas assim, de alma e espírito fragilizados, qualquer sopro de ventania se afeiçoa a redemoinho.
“Sim, é um redemoinho. É um turbilhão. Uma ventania que se forma fina e localizada, mas que, num crescente, vai alcançando poder de destruição sem igual. A tudo leva, a tudo arrasta, a tudo destrói. E quase não há proteção contra sua chegada, quase não há saída quando se aproxima...”.
Assim também os redemoinhos na vida, fatos, coisas e situações que nascem simples, mas que, quando não domadas na sua raiz, acabam provocando consequências devastadoras. Quando se imagina que se está adiante de apenas uma situação desconfortável e que possa ser resolvida a qualquer instante, surge então o doloroso reconhecimento do total descontrole, eis que sua voracidade já corroendo por dentro.
“Não se sabe ao certo se tormenta, se furação, se tornado, se tufão ou qualquer outro fenômeno devastador da natureza. Sabe-se apenas que nasceu como simples grãos de areia se movendo, que transformados em poeira em pó, como redemoinho foi caminhando. E por onde passou deixou somente restos, destruição e medo...”.
Então olhe pela janela da alma e veja como está o seu deserto ou sua praia de brancura na areia. Sinta se o vento se levanta dentro de si, sinta se o seu espírito não está propenso a tempestades. Tudo faça para que somente a brisa sopre pelos quadrantes, mas sempre temendo acaso aviste uma folha seca passando diante do olhar.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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