SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quarta-feira, 2 de março de 2016

Palavra Solta - janela


Rangel Alves da Costa*


Não, não é a janela da alma, janela do sentimento, janela entre o real e a ilusão, mas a janela mesmo, aquela aberta em parede e que se abre e se fecha por todo lugar. Aquela ao lado da porta ou que sozinha mostra o mundo lá fora ou a tristeza lá dentro. Como diz a música, é da janela lateral do quarto de dormir que muito se avista lá fora, assim como os caminhantes pela estrada, o redemoinho antes da tempestade, a procissão e o velório. Do umbral, sempre ao entardecer, a mocinha triste vai construindo o seu mundo de sonho e de dor, e sorri e chora, e deseja e desiste. Tantas vezes aberta, tantas vezes fechada, ou entreaberta para ser empurrada. Mesmo fechada, a ventania insiste em forçar a madeira para abrir passagem. E se aberta logo se sente dono do quarto, da casa, das vidas, e vai esvoaçando tudo sem piedade. Mas nada igual à janela de casa desde muito abandonada, distante de tudo, ao desejo do tempo. Não há flor à janela, não há menina tristonha, nada. Apenas um vulto que é avistado assim que a noite chega e um sino brada a solidão da vida e os mistérios do mundo.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

Nenhum comentário: