SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Palavra Solta: umbuzeiro matuto


Rangel Alves da Costa*


Ao lado mandacaru e do xiquexique, o umbuzeiro representa toda a simbologia sertaneja. Mesmo sem frutificar, ele permanece imponente no meio do mato, no meio do tempo sertanejo. Quando não dá frutos, sua serventia é mais para fazer sombra aos bichos do mato, que fugindo da secura da terra e da fornalha do sol, vai buscar no seu costado o alento no dia a dia. Árvore sempre grande, espessa, encorpada, sempre há alguma sombra debaixo de sua copa, ainda que tudo seja sequidão ao redor. E é, pois, nas sombras dos umbuzeiros matutos que os bichos encontram instantes de menos tormento pela sequidão que toma conta de tudo. Alguns vagueiam lentamente ao redor, outros se lançam ao chão tencionando o cochilo e o adormecimento, mas quase sempre fraquejados pela fome e pela sede. Daí que nas vastidões sertanejas, onde não há mais folhagem nem copa aberta, lá estará o velho umbuzeiro acolhendo seus visitantes. Também ali local de descanso do homem em sua jornada sertões adentro, ali também parada para a trégua do cangaceiro, do velho beato, do retirante. Um sono profundo, porém ligeiro, pois perigoso demais o homem assim deitado à vista dos visitantes. Mas o bicho faz dali sua moradia, seu local de repouso, até sua mesa em certas ocasiões. Quando chove e tudo começa a vingar novamente, então o umbuzeiro fica carregado de frutos deliciosos. Quando maduros, despencam e formam tapetes pelo chão. Então logo chega o homem, o bicho e qualquer um que goste de apreciar a bela fruta sertaneja.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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