SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Palavra Solta: quase silêncio


Rangel Alves da Costa*


O silêncio não existe, pois tudo continua com voz na memória, no pensamento, na saudade. O que existe é a mudez, é falta de palavra, é a ausência de voz ecoando. Mesmo em tardes de solidão, onde a distância de outros soa até como benção, o silêncio não se faz suficiente para ser sentido. As folhagens farfalhando, a canção do sopro do vento, os grilos em constante vigília, os sons das matas e das matas, a cantiga das ondas no cais, tudo chega em grito. Mesmo a porta e a janelas fechadas, mesmo cortinas encobrindo tudo, mesmo num mundo sem frestas, ainda assim os sons tomarão os silêncios. A dor da saudade grita, o pensamento em alguém irrompe em trovões, a lembrança de um beijo ou um abraço provoca um barulho danado. Tudo grita, tudo se agita, tudo provoca ribombos e algazarras. Porque a solidão é uma multidão e o silêncio uma voz. A solidão vai chamando presenças, enquanto o silêncio dá voz e forma ao que se quer avistar. E por isso mesmo que as tardes, as noites e as madrugadas, que deveriam ser sempre silenciosas, são os instantes onde mais as vozes e os gritos tomam os espaços e tornam os sentimentos reféns de um rogo qualquer.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

Nenhum comentário: