Rangel Alves da Costa*
As portas e as janelas possuem um significado
sociológico inestimável. O mesmo reflexo nos aspectos e sentimentais, sem falar
nas histórias de vida e no contexto humano em que estão inseridas. Digo isso
porque me reviro em pensamentos toda vez que passo diante de uma casa nas
distâncias interioranas e as portas e janelas estão entreabertas ou
simplesmente fechadas. De vez em quando avisto um vulto, ouço uma vassoura
arranhando o chão, o latido de um cão. As pessoas nunca são avistadas, os
meninos nunca estão brincando debaixo dos sombreados. São casas e casebres
antigos, de barro e cipó, com um dois quartos, sala e cozinha, além do quintal.
Não sei por que, mas sempre enxergo tristezas antigas em tais moradias.
Mocinhas nas janelas com seus olhos tristes, meninos tristes saindo pelas
portas, famílias inteiras numa tristeza só. Certamente que vivem num mundo
maravilhoso de paz e de lua, de ventania e sossego, mas somente isso. Todo o
restante é de sofrimento: a seca, o desemprego, a falta de comida na mesa, a
falta de remédio, o abandono, a submissão. Em situação assim, verdadeiramente
não há quem abra uma porta ou uma janela com olhos alegres e a feição cheia de
felicidade. Infelizmente é assim. E num mundo que eu conheço tão bem.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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