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A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



domingo, 17 de janeiro de 2016

Palavra Solta: janelas e portas e suas tristezas antigas


Rangel Alves da Costa*


As portas e as janelas possuem um significado sociológico inestimável. O mesmo reflexo nos aspectos e sentimentais, sem falar nas histórias de vida e no contexto humano em que estão inseridas. Digo isso porque me reviro em pensamentos toda vez que passo diante de uma casa nas distâncias interioranas e as portas e janelas estão entreabertas ou simplesmente fechadas. De vez em quando avisto um vulto, ouço uma vassoura arranhando o chão, o latido de um cão. As pessoas nunca são avistadas, os meninos nunca estão brincando debaixo dos sombreados. São casas e casebres antigos, de barro e cipó, com um dois quartos, sala e cozinha, além do quintal. Não sei por que, mas sempre enxergo tristezas antigas em tais moradias. Mocinhas nas janelas com seus olhos tristes, meninos tristes saindo pelas portas, famílias inteiras numa tristeza só. Certamente que vivem num mundo maravilhoso de paz e de lua, de ventania e sossego, mas somente isso. Todo o restante é de sofrimento: a seca, o desemprego, a falta de comida na mesa, a falta de remédio, o abandono, a submissão. Em situação assim, verdadeiramente não há quem abra uma porta ou uma janela com olhos alegres e a feição cheia de felicidade. Infelizmente é assim. E num mundo que eu conheço tão bem.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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