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A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Palavra Solta: panelada de galinha de capoeira


Rangel Alves da Costa*


A verdadeira galinha de capoeira é criada solta, ciscando pela malhada e fundo de quintal. Alimenta-se do milho jogado, de restos de comida, do que o seu bico encontrar. É arisca, corredora, difícil de ser alcançada. Às cinco da tarde já está em busca do poleiro e também antes das cinco da manhã já estará se alvoroçando em correria. Seus ovos são sem igual para acompanhar o cuscuz, a macaxeira, a batata ou qualquer outra coisa da mesa matuta. Contudo, nada igual à própria galinha dentro de uma panela, bem temperada, deixando que óleo saia de sua própria gordura. Dá um trabalho danado correr atrás e pegar a penosa, igual trabalho dá puxar no pescoço e tirar as penas na água fervente. Não menos trabalhoso é cortar sua carne rija, endurecida pelo alimento natural que consumiu. Mas depois é só colocar na panela com o tomate, o pimentão, a cebola, o alho, o tempero, o colorau e o sal, e deixar que o fogo (fogão a lenha sempre dá um gosto mais primoroso) cuide de fazer o resto. Por ser uma carne macia após a fervura, não demora muito para o caldo grosso borbulhar. O tal caldo vai formando um óleo de bom proveito quando misturado fervente à farinha para um pirão. Depois de preparada, colocada sobre a mesa e saboreada como relíquia, não sem antes molhar a goela com uma aguardente, não há quem não deseje repetir a iguaria. E depois se estender numa rede de varanda e sonhar com as delícias da vida. Estas são poucas, mas ainda existem. Galinha de capoeira bem preparada é uma destas.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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