SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Palavra Solta: na terra quente


Rangel Alves da Costa*


Ontem, domingo, após as dez da manhã eu já estava pelas estradas sertanejas, caminhando sobre a areia quente e debaixo de um sol sem igual. Um calor abrasador, o suor pingando, a boca pedindo água. E eu seguindo adiante. Olhava para os lados da estrada e avistava somente a seca grande, desmedida, aterradora. A secura que vem tomando do sertão está de tal modo que as paisagens parecem pintadas de uma só cor: cinza. E cinza na caatinga, na planta rasteira, nos descampados, onde o olho possa avistar. A mataria quebradiça, frágil, fina, dobrada a cada gesto. De tom ainda verdoso somente nas cactáceas, na palma, no mandacaru, no xiquexique, na jurubeba, no facheiro, mas ainda assim tudo ressequido, magro, espinhento, ossudo. E quando a planta símbolo do sertão começa a se enfear e a perder o seu viço, então a coisa tá de lascar mesmo. Tristeza igual nos bichos que avistei. Não avistei uma só vaca ou garrote que não estivesse na pele e no osso, quase uma carcaça andante. Então fiquei imaginando minha caminhada debaixo daquele sol escaldante e por cima daquela terra abrasada e comparei à situação do bicho. O homem caminha por um instante, reclama, contesta, diz o que sente. E o bicho, ali dia e noite, por anos e anos, ou até somente aquela seca? Apenas sofrendo, mugindo, berrando, caindo, calando, morrendo.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

Nenhum comentário: