SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Palavra Solta: flores d’água


Rangel Alves da Costa*


De vez em quando caminho pela margem do rio e fico observando o caminho das águas. Leito azul, leito esverdeado, leito lento e manso, despontando na curva e seguindo adiante. O espelho d’água é tão singelo que sequer permita imaginar quantos mistérios e quantas forças existem lá embaixo. Mesmo mansas, mesmo tão calmas e pacíficas, as profundezas das águas sempre são perigosas. Ali uma história de dores e sofrimentos, de vidas perdidas, de restos de embarcações, do inimaginável numa rápida visão. Mas o rio vai passando solene, bonito, cheio, largo, encantador. Arremesso uma pedrinha no seu leito e logo se abre uma flor. Sim, uma flor d’água. Com o toque da pedra, a água reage com um leve transbordamento. E ali surge uma bela flor. E de vez em quando arremesso três, quatro, cinco pedrinhas de uma só vez, e de repente um pequeno jardim em meio ao rio. Aquelas flores d’água simbolizam muito para mim. Surgem tão rapidamente e desparecem também tão rapidamente que imagino ali a própria vida. A vida também flores d’água. Belas flores que surgem adiante, que fazem parte de nossas manhãs, mas que de repente nada mais resta naquele jardim. Ou naquele rio. Um rio que apenas passa e leva minha flor no seu destino além.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

Nenhum comentário: