SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Palavra Solta: o farol, o cais...


Rangel Alves da Costa*


Ao longe, um farol antigo, ali pregado desde os tempos mais antigos. Perto do cais, numa pequena elevação, o farol orientando embarcações, salvando vidas, acolhendo os que aportam, dando adeus aos que partem. Testemunha dos tempos, seus olhos talvez já tenham se cansado de avistar a beleza e a tragédia, o bom e o ruim, a calmaria e o vendaval. E silenciosamente ouve a dança das águas, os apitos das naves, as palavras que se alvoroçam no cais. Não mais se espante com o barco fantasma que noites mais escurecidas se aproxima da areia e dele sempre desce uma mulher sem face. Não mais se atormenta com a mulher que passeia nas madrugadas pelas areias solitárias da praia. A mulher, sua lágrima no olhar, sua flor murcha à mão, e seu caminho ao fundo das incertezas. Não mais sofre com a solidão do cais, com as dores das pedras do cais, com o canto gemido passando pelas areias do cais. É também solitário, triste, melancólico e angustiado. Sofre de solidão antiga, se atormenta de lamentos antigos, padece de tristezas sem fim. Eis que tudo vem e tudo chega, tudo parte e tudo vai, tudo se faz pulsação e depois arrefece, tudo é voz e depois silêncio, e ele ali, apenas um farol. Com luzes de grande alcance antigamente, mas agora quase uma vela de pouco brilho. Um dia de tanto sol, de tanta lua e tanta luz, e agora somente a leve chama. Assim como uma lágrima que vai descendo pelo canto do olho. E depois morre na areia, ou nas areias do cais.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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