SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Palavra Solta: chuva


Rangel Alves da Costa*


A chuva é muito mais que a chuva. A chuva é tudo. A chuva é molhação, é pingo caindo, é renascimento, é vida. A chuva é enchente, é transbordamento, é lavagem, é alimentação da terra e da vida. A chuva é alegria, é encanto, é contentamento, é sorriso. Mas a chuva também é tristeza, é saudade, é lágrima, é sofrimento. A chuva que chega na noite transforma a escuridão numa poesia sem lua. As vidraças se derramam em gotas que embaçam os olhos e reencontram o passado. Lá fora, a chuva, caindo, há um tempo pronto para renascer, mas lá dentro, com a mesma chuva caindo, as enxurradas vão vencendo as barreiras e desaguam em lágrimas e prantos. Porque a chuva desperta sentimentos e alarga os córregos, ribeiras e rios da alma. Porque a chuva vai escorrendo e na sua passagem deixa um tempo de silêncio e solidão. Porque a chuva acalanta a sequidão e transborda em flor a aridez das tristezas tantas. Porque a chuva não cai ao desvão, não apenas escorre e segue adiante. A chuva provoca outra realidade, modifica o ser, faz da sensibilidade um encontro com os escondidos por dentro. E quando a porta se abre e os passos vão ao seu encontro, e quando os braços se abrem para recebe-la, e quando o corpo se entrega em festa, então a liberdade já não pensa em sol. Quer apenas a chuva para renascer.
                                      

Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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