SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sábado, 19 de setembro de 2015

PÁSSAROS DA ALMA


Rangel Alves da Costa*


Você se recorda daquelas manhãs que após abrir a janela lhe chegava uma vontade danada de voar?
Você se lembra daqueles doces e inusitados instantes quando se sentia tão feliz e tão leve que parecia que voaria a qualquer momento?
Você se recorda daqueles momentos bons, espiritualmente confortados, quando após abrir os braços em direção ao céu se sentia nas asas de um passarinho?
Você se relembra de estar tão bem emocionalmente, com alma de pluma e espírito de brisa, que parecia sair de si e subir radiante aos espaços?
Você rememora quando subiu à montanha e lá do mais alto do alto olhou o mundo ao redor, nas suas belezas e distâncias, e teve vontade de ser passarinho?
Você se recorda de ter acordado tão feliz e disposta à vida que se comprometeu a ter um dia inteiro de grandes realizações e máxima felicidade?
Você se lembra de que mesmo a tempestade chegando, o tempo tristonho, as saudades persistindo para atormentar, a sua face feliz não aceitava outra coisa senão o sorriso?
Você relembra quando de repente saiu em correria para o meio da chuva e, com roupa e tudo, se fez aquela menina de antigamente que sonhava com um momento assim?
Você recorda daqueles momentos onde as coisas ruins ou pesarosas jamais conseguiam afetar seu desejo imenso de viver plenamente seus instantes de felicidade?
Você se lembra de quando o espinho lhe feriu o dedo e nem houve reclamação, quando a pedra machucou seu pé e não houve qualquer demonstração de dor?
Você rememora quando alguém premeditadamente quis ferir sua alma, fragilizar seu espírito, lhe atormentar o coração, e ainda assim teve um sorriso como resposta?
Você relembra daquelas pessoas entristecidas passando cabisbaixas, daqueles olhares vazios sem direção, daquelas faces espelhando a dor, e o seu passo parecendo ter asas?
Você se recorda quando após a lágrima firmou compromisso consigo própria de não mais chorar por coisas vãs, e depois disso transformou o pranto em alimento do espírito?
Você rememora quando passeava pelo jardim e sentia flor, quando andava pelos campos e sentia borboleta, quando avistava a beleza da vida e parecia sonhar?
Você se lembra de quando sua mãe lhe disse que depois da alegria sempre vem uma tristeza, e como observação apenas disse que depois da alegria não teria depois?
Você se recorda quando diante da boneca de pano houve juramento de que nunca iria crescer apara não sofrer e depois de crescida ainda repete o mesmo à sua boneca invisível?
Você relembra de que seu velho diário está cheia de frases como meu pássaro quer um horizonte, minha manhã quer um colibri, meus dedos um dia escreverão poesia nas nuvens?
Você se recorda da última vez que intimamente se confessou e disse a si mesma que caminhava nos passos da vida, mas seu verdadeiro compromisso era com as estrelas?
Você se lembra de ter olhado para o alto e diante de toda aquela grandeza e mistério permanecer por longo tempo em busca da face de Deus?
Sei que não de tudo, mas de muita coisa você se recorda. Relembra da felicidade ao encontrar a manhã ao abrir a janela, da vontade de simplesmente voar sem destino, e de muito mais.
Você é ser humano e todo ser é predestinado a buscar o melhor para si, para o seu viver, para a sua estrada. Eis que a pessoa só se contenta com aquilo lhe traz contentamento e felicidade.
Você é pessoa, porém desejaria ser diferente. Disso eu bem sei. Mas o pássaro que deseja ser não está distante. Então abra os braços, agradeça a Deus pela vida, e voe. Voe bem alto, o mais alto possível.
Você tem pássaros na alma!


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

Nenhum comentário: