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A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Palavra Solta: minha pequenina aldeia


Rangel Alves da Costa*


Fernando Pessoa disse que o Tejo é o rio mais belo que existe, mas não é mais bonito que o rio que passa pela sua aldeia, simplesmente porque o Tejo não o é rio que passa pela sua aldeia. Da poesia tiro a lição: Minha aldeia, ainda que pequenina, é a mais bela que existe porque é a minha aldeia. Aprendi no tempo a amar o singelo, aprendi na estrada a reconhecer o valor das pequenas coisas. Não importa o que eu seja hoje, se rei ou súdito, se soberano ou aldeão, se guerreiro ou campesino, pois a única coisa que sou é ser menor que minha aldeia, a minha pequenina aldeia. O seu riachinho passando pelos quintais é um mar sem fim, cada casebre é um suntuoso palácio, cada vivente é o ser mais feliz deste mundo, cada amanhecer é a paisagem mais bela. Dizem que mais atrás e mais na frente, pelos lados e mais adiante, há um mundo bem diferente, com cidades grandes, asfalto, grandes construções, moradias de luxo, pessoas vaidosas e egoístas. Temo que algum dia a minha aldeia também deseje ser grande e colocar numa rua a feiura do negrume do asfalto. Difícil imaginar a vida perdendo sua liberdade de apenas ser. Enquanto o horizonte se avermelha e a última revoada corta os céus em poesia, o povo de minha aldeia recolhe os restos do dia para colocar tudo num só coração. Tudo cheirando a café torrado, a comida de fogão de lenha, a perfume bom chegando na brisa. E quando adormece minha aldeia sonha. E quando sonha minha pequenina aldeia sequer sonha em algum dia acordar para os desatinos do mundo novo.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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