SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

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quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Palavra Solta: menino triste


Rangel Alves da Costa*


O menino estava triste. E numa tristeza de fazer qualquer um entristecer também. Menino, menino, tão novo o menino, certamente que não haveria motivo para tanto entristecimento. Será que havia perdido seu cavalo de pau, sua bola de gude, seu papagaio de sarapantar pelo ar, sua bola murcha, seu boi de barro, seu carrinho de madeira? Ou será que assim entristecia porque sua avó lhe puxou a orelha ou sua mãe proibiu de tomar banho nas correntezas do riachinho? Ninguém sabe. Só mesmo o menino para responder. No alto da pedra, parecendo não querer conversa com ninguém, mesmo assim seu avô arriscou foi se achegando para saber o que se passava naquela cabecinha. Por que está assim tão longe desse mundo, meu netinho, perguntou. E ajuntou: menino de sua idade é pra duas coisas, estudar e brincar, e hoje não vi você nem chupar uma manga no pé. O que está acontecendo, meu neto netinho? O que ouviu como resposta quase lhe faz voar, ou arribar chão abaixo. É verdade que vou crescer mesmo vô, que foi deixar de ser menino e ficar gente grande? E prosseguiu: Pois num quero crescer não. O quero é ficar é continuar assim mesmo como sou, apenas menino. E menino descalço, correndo, correndo, zanzando no meio do mundo. Deus me livre de crescer. Todo mundo que cresceu só anda triste, com raiva do mundo, como se tivesse fugindo de tudo. Por isso que quero continuar menino. E fico triste só em pensar um dia deixar no esquecimento a minha felicidade.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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