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A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



domingo, 23 de agosto de 2015

Palavra Solta: vida e flor do mandacaru


Rangel Alves da Costa*


O mandacaru, a planta símbolo do sertão, não alcançou tal fama ao acaso. Dentre as cactáceas, certamente que é a mais resistente, a mais imponente, ainda que não seja a mais singela. Neste aspecto, invencível é a cabeça-de-frade com sua predisposição para nascer em qualquer lugar, até mesmo por cima das pedras, entre as rachaduras, e ter por acima do seu corpo espinhento e rechonchudo um pequeno jardim de pingentes avermelhados. Mas o mandacaru também tem flor, e que bela flor a do mandacaru. Nasce esbranquiçada e vai tomando uma cor amarelada, como anéis ou enfeites que pendem dos braços estendidos em direção aos horizontes sertanejos. Dizem que os braços estendidos do mandacaru, sempre em direção ao alto, estão rogando piedade ao Senhor dos Sertões. É a planta mais religiosa entre todas que vingam na secura e nos carrascais sertanejos, vez que sempre em gesto de louvação, de prece, de pedido pelas graças divinas. O que tanto implora? Chuva, terra verdejante, água nas fontes, paz ao seu mundo de desvalia. É também a mais duradoura entre todas as cactáceas, pois vai suportando todas as dores das estiagens, todas as angústias das secas, e, ainda que magra e ressequida, sempre altiva na paisagem de desolação. Dizem também que quando chegar o tempo de o mandacaru prostrar-se ao relento sem vida, nenhum olhar, nem de bicho nem de homem, poderá testemunhar. Simplesmente porque o sertão acabou.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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