SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



terça-feira, 4 de agosto de 2015

Palavra Solta: homem e terra num só suor


Rangel Alves da Costa*


Alguém já disse que o homem sertanejo se afeiçoa à própria terra. Assim, o caboclo não é somente o sujeito em si, mas também o bafo quente da chuvarada por cima do chão, o grão de areia que se desprende do barro das estradas e veredas, o espinho que rama ladeado pela flor nas distâncias matutas. O sertanejo é assim terra como o próprio chão sertanejo. Quente, calorento, suado, queimado de sol, tingido de lua e de entardecer. Sendo terra também é raiz, é broto, é floração, é tronco, é natureza. Essa junção de homem e terra e terra e homem torna inseparável o ser vivente de seu meio de existência. A dor da terra é a dor do homem, o sorriso da terra é a alegria do homem. Quando a terra resseca, esturrica, se vê desalentada e triste, a mesma feição será avistada no homem. Quando a terra sofre pelas estiagens e o seu chão resseca de tal modo que a lama se divide aos pés, no homem também será encontrada tal feição. Ele seca o olho, enruga a tez, afina o corpo, desponta ossudo, angustiado, entristecido que só. Mas basta que a nuvem prenhe se aproxime e comece a cair pingo gordo no chão, logo a vida se vê renascida nos dois: no homem e na terra. E de mãos dadas vão vivendo a vida, um colhendo do outro sua razão de ser tão sertão.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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