SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sábado, 22 de agosto de 2015

O DESTINO DO VENTO


Rangel Alves da Costa*


Nada que se aviste no olhar, mas o corpo e os cabelos sentem sua presença. Não diz de onde vem nem para onde vai. Mas vem e vai. Mas para onde o vento vai?
Tudo que tem existência tem um destino. O vento também tem seu destino. Mas qual o destino do vento?
Será que o vento é eterno, será que se finda adiante, será que renasce a cada curva, a cada transpor de montanha. Ninguém sabe com precisão. Qual será o seu destino?
Brisa, aragem, sopro, lufada, vento, ventania, vendaval. Não importa, pois tudo força atmosférica que pelo ar viaja rumo a determinado lugar. Mas aonde pretende chegar?
Pássaro oculto pelos espaços, asas que esvoaçam sem mostrar as penas, viajante apressado ou lento que sempre vem, sempre passa e sempre segue. Onde será seu repouso?
As velas pendem e mudam a direção do barco, as palhas dos coqueiros se agitam, a concha do mar se abre para o seu segredo, tudo se embala na sua passagem. Aonde vai?
Aonde o vento vai, aonde vão a brisa e a ventania? Os cabelos da menina querem seguir seu voo, as folhas se deixam levar, as saias são levantadas. Mas aonde o vento vai?
O vento vem mansamente ou em açoite, chega de bem distante, de lugares desconhecidos, mas no seu percurso vai para algum lugar. Para onde?
O vento nasce em algum lugar, do encontro de massas de ar sob pressão, e vai tomando feição própria e rumando além, sem estrada ou caminho. Mas vai a qual direção?
A direção do vento fica na dependência do que encontrar pela frente, do que lhe permita passar em sobrevoo ou redirecionar seu percurso. Mas até onde tal viagem?
Difícil saber para onde o vento vai. Mas possível saber como ele se aproxima, se calmo e sereno, se agitado ou afoito. Por que não há constância no seu jeito de ser?
Igualmente ao ser humano, também o vento muda, se transforma. Vento voraz, sedento, amedrontador. Brisa leve, quase melodia, apenas beijando a face. Para onde ele vai?
Tal qual ser humano, o vento se atormenta e arrefece, brada e silencia. Destrói quando quer, acaricia quando deseja. Há um querer próprio no vento. Mas qual segredo guardado?
Há um mistério no vento, há um segredo no vento. Não fala, apenas zune, apenas canta, apenas entoa a canção das distâncias. Mas deixa palavras na sua passagem. Por quê?
O vento já desponta sabendo de tudo. Vem de longe, conhece mundos, conhece realidades, traz consigo notícia e jornal, o novo e o velho. Mas aonde vai com tanto saber?
Sábio é o vento, disse o profeta. Basta conhecer seu sopro para saber o que acontecerá. Sempre traz consigo caderno e livro. Mas nunca fica para explicar. Aonde o vento vai?
Misterioso é o vento, disse o pescador. As águas apenas dançam na sua passagem, mas de repente tudo pode ser transformar em desespero. É o vento revirando tudo. Por que assim?
Assim porque em tudo há a inconstância. Tempo de calmaria e tempo de vendaval. O mar conhece bem o seu significado. Por que se sabe o que ele faz e nunca para onde vai?
Vento é força, disse o andante saariano. O deserto se impõe diante de todos, devora resseca, amedronta. Mas a ventania leva suas areias para onde quiser. Mas para onde?
Vento é angústia e sofrimento, disse a mocinha entristecida na janela do entardecer. Espera uma carta no vento, uma flor no vento, mas ele apenas passa. E vai para onde?
Vento é tudo. Nada se esconde de sua força, de sua chegada, de seu encontro. As portas e janelas se abrem à sua passagem e depois some num rastro ligeiro. E vai. Para onde?
Como uma sentença do Eclesiastes, a brisa se transforma em ventania como o vendaval se transforma em calmaria. Sempre se transforma e vai. Mas para onde vai?
Deixai que os sonhos descubram o destino do vento. Deixai que as folhas do outono conheçam seu destino final. O homem não precisa saber. Apenas que o vento vai.
Ou que vai assim como uma vida. Um caminho de perfumada brisa até chegar o vendaval do adeus. Eis que o vento é vida e morte. Um sopro que vem e que vai.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

Nenhum comentário: