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sexta-feira, 17 de julho de 2015

Palavra Solta: um tantinho assim de tristeza


Rangel Alves da Costa*


Talvez eu seja diferente de muitas pessoas, pois gosto de coisas que causam aversões e repulsas. Difícil alguém gostar de solidão, de tristeza, da noite em pleno breu, da chuvarada caindo em cima do telhado. Até de relâmpago, trovão e trovoada eu gosto. Admiro tudo isso, porém na justa medida do suportar. Quer dizer, gosto daqueles instantes solitários e que chegam acompanhados de um tantinho assim de tristeza. Creio que um tiquinho de tristeza não faz mal a ninguém, pelo contrário. A tristeza dosada é como o espírito e a alma meditando sobre os inevitáveis da vida. E o que a gente não pode fugir de sentir? Por mais que se omita, tente esconder ou negar, a verdade é que ninguém pode fugir da lembrança, da recordação, da saudade, do retorno aos tempos idos. E dificilmente uma recordação não chega trazendo um tantinho assim de tristeza. Não precisa sofrer, não precisa chorar, não precisa se desesperar, mas apenas entristecer um pouquinho. Ou mesmo um chorinho de leve, por dentro ou sem derramar no olho, apenas para amoldar o instante à paisagem do olhar que vai sumindo no horizonte. Vai sumindo no entardecer, nas cores abrasadas do pôr do sol, entre as nuvens que se preparam para abraçar a lua. Mas é preciso ter muito cuidado. Muitas vezes a revoada do entardecer chama também à partida. E a pessoa viaja tão distante que, sem perceber, já está naufragando num mar sem fim ou perdida num horizonte de sofrimentos. Será preciso reaprender a voar para retornar e tornar a sua tristeza apenas num tiquinho assim. Uma pontinha de quase nada.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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