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domingo, 12 de julho de 2015

Palavra Solta: pais e filhos


Rangel Alves da Costa*


Na verdade, não há pai. Na verdade, não há filho. O filho é pai, o pai é o filho. Dependendo do instante de vida, o pai é a criança, enquanto o filho é quem lhe deve cuidado. Também dependendo do percurso, o filho continuará sempre criança, enquanto o pai jamais terá tempo de envelhecer. Mas não é só, em todo filho se enraíza um pai desde criança, e em todo pai igualmente enraíza a criança que é o seu filho já adulto. E mais: o pai nunca é apenas pai, segundo uma idade e uma responsabilidade. O pai é a sua idade e também mais novo e muito mais velho. Mais novo porque também na idade do filho para compreendê-lo e mais velho porque tem de se alicerçar na sabedoria antiga para melhor cuidar do seu. O filho também na sua idade e na idade do pai e talvez do avô. O filho que deseja ser pai não deixa de se espelhar desde já na postura do pai, enquanto ser cuidadoso para com o seu, e também na feição de seu avô, pois neste a síntese de tudo. Ademais, o pai olha para o filho e talvez se sinta um avô. O filho diante do pai também imagina o seu amanhã tendo um filho diante de si. Não será filho, mas pai. O pai já avô, mas nada que faça com que todos deixem de ser, ao mesmo tempo, o filho, o pai e o avô.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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