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quinta-feira, 9 de julho de 2015

FESTA NA AVENIDA OU FESTIM DE OBSCENIDADES?


Rangel Alves da Costa*


Não danço, não estou bebendo sequer cerveja, não gosto de estar em meio a multidões frenéticas e agitadas, mas ainda assim me predispus a comparecer a uma festa numa das principais avenidas de Poço Redondo. Contudo, saí de lá com a impressão de ter presenciado um festim de bordel com strip-tease de quinta categoria. Ou não?
Como estava em Poço Redondo no último fim de semana e fui informado da festa na Avenida Alcino Alves Costa, então resolvi comparecer para reencontrar velhos amigos e conhecidos. Também fui informado que parte da avenida era fechada para o evento, onde um palco era colocado para apresentação das bandas e artistas, e também que não era a primeira vez que festa assim era ali organizada. Tudo bem. Então fui.
Contudo, jamais imaginei que assistiria a um espetáculo tão degradante. A começar pelo arrocha após arrocha, como se o mundo musical tivesse se instalado de vez no fundo do poço (sem trocadilho). Ainda assim uma juventude completamente extasiada com o dejeto musical e ecoando refrãos do tipo “Tá doendo é, tá chorando é, todo castigo é pouco, falei que ia ter troco. Tá doendo é, tá chorando é...”. Ou “Tá na sofrência, na carência, tentando esquecer o que te fez sofrer. Tá perdida, desiludida, descontando o mal de amor na pobre da bebida...”. Mas não pensem que sei de tais letras, pois tive de pesquisar para citá-las aqui.
Selminha Paz foi a primeira cantora a se apresentar. Não sei de onde saiu a dita, mas ela possui um fôlego verdadeiramente impressionante, pois cantarolou “arrochertão” por duas horas seguidas. E foi a tal Selminha, ao convidar duas mulheres ao palco para dançar, que deu início a cenas somente avistadas em shows eróticos. Cenas apelativas, verdadeiramente pornográficas, num total desrespeito às famílias nas casas ao lado, aos menores e a todos que não esperavam tamanha sem-vergonhice.
Na verdade, o que se viu em cima do palco foi um verdadeiro ultraje público ao pudor, escancarado em atos obscenos. Ultraje significando afronta, insulto ou ofensa muito grave. Pudor significando respeito à moralidade, sentimento de decência que está inserida na dignidade. A prática de ultraje ao pudor é crime perante o Código Penal, que o prevê no art. 233, com a denominação de ato obsceno: “Praticar ato obsceno em lugar público, ou aberto ou exposto ao público: Pena — detenção, de três meses a um ano, ou multa”.
Por ato obsceno tem-se uma ação com conotação sexual, praticada no sentido de provocar o público. E segundo a lei, todo aquele que praticar um ato obsceno, impudico, de apelo sexual, de modo a ofender o sentimento médio de pudor, em lugar público, ou aberto ou exposto ao público, deverá sofrer as reprimendas legais. E o ato obsceno se configura, por exemplo, quando há strip-tease em público, quando há apelo à nudez e quando é praticado algum ato de erotização acima da média normal aceita pela sociedade.
E o que se viu em cima daquele palco, após a cantora Selminha Paz convidar as duas moças para dançar, foi um total desrespeito a grande parte do público ali presente e, como já citado, às famílias que estavam em suas casas nos arredores. As duas, uma mais morena e outra mais magrinha, começaram então um verdadeiro festim despudorado. A morena dançava levantando a parte de trás da roupa em direção ao público, mostrando as entranhas guardadas por calcinha minúscula. Já a mais magrinha, não se contentando com a dança obscena, começou a tirar a roupa. Eis que baixou o short até abaixo da calcinha. Quase fica completamente nua em cima do palco, diante de todos.
Verdadeiramente não sei que proveito tira uma sociedade que se compraz com cenas tais, tão moralmente degradantes. Não sei se as duas estavam alcoolizadas em excesso ou drogadas, mas sei que atitudes tais comungam contra toda a juventude. Creio que a culpa pelo ocorrido não pode ser imputada aos organizadores, vez que foi a tal da Selminha “Arrochertão” que convidou as garotas e permitiu que a coisa chegasse ao ponto de depravação. Mas festas com cenas tais não podem nem devem se repetir.
Creio que o Ministério Público deveria ser informado de tais ocorrências para a tomada das devidas providências e coibir que eventos assim, danosos à moral social, aos costumes e às famílias, façam da obscenidade uma festa. Ademais, avenida é logradouro público que não pode ser usado para que palcos sejam instalados para festins pornográficos.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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