SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sexta-feira, 29 de maio de 2015

DESTINO


Rangel Alves da Costa*


Dizem que o destino vive à frente do homem costurando o futuro, marcando reencontros e acontecimentos, decidindo como será o amanhã. Junta retratos desde muito separados, marca com fita o que não pode ser esquecido, cuida de assinalar no calendário o inesperado e o desconhecido, coloca um espelho para que as imagens passadas novamente reflitam. Mas principalmente escreve no diário do tempo cada passo do homem.
Ao caminhar, o homem sequer imagina que aquela estrada já lhe havia sido destinada. E também a pessoa que encontra, o velho amigo que reencontra, a sorte e o desprazer. O banco da praça já aguardava o visitante, a recordação surgida já estava programada para afligir, a lágrima que desce do olhar já estava destinada a ser assim. O pássaro que pousa no ombro também, e assim com a bala perdida, a pedra jogada, a dor no peito, a morte.
Tudo obedece ao destino. Ninguém nasce nas distâncias do mundo, crescendo puxando o cabo de enxada para mais tarde fazer fortuna na cidade grande sem que a mão do destino o conduza. Ninguém vai caminhando e adiante encontra mais dois caminhos e tenha de decidir em qual direção seguir se não for transportado pelo destino. Ainda que a estrada escolhida seja cheia de perigosos labirintos, mesmo assim não seria outra sua opção. O destino faz com que experimente o perigo para que sua recompensa seja garantida.
O que alguns conhecem por sorte, deveriam chamar de destino. Se algo não estava predestinado a acontecer, não foi por sorte que não ocorreu. Mas o que está escrito, aquilo marcado nas letras do tempo para um dia existir, pode passar o tempo que for e acontecerá sem precisar dar aviso. Tome-se, por exemplo, o fato de que a pessoa toda semana faz aposta máxima na loteria e nunca ganha. Mas numa feita só tem dinheiro para aposta mínima e mesmo desesperançado joga. E acaba ganhando sozinho. O seu tempo era aquele ou não?
Na lição do velho profeta, o destino é o próprio caminho do homem. Ainda que decida cortar a estrada ou retornar, ainda assim terá sido pelo querer do fadário. E nada, absolutamente nada, pode fugir ao que foi marcado para acontecer. Em tudo pode haver esquecimento, descumprimento e inércia no fazer, mas não ao que está destinado advir. Mais cedo ou mais tarde tudo acaba acontecendo.
O destino é certeza tão importante na vida que vai além de sua mera conceituação. Com efeito, tem-se o destino como uma força misteriosa que determina os acontecimentos na vida das pessoas. Ou ainda a força sobrenatural que atua sobre o ser humano e o coloca refém de uma sucessão inevitável de acontecimentos. Costumeiramente também chamado de sina, fadário, estrela ou fortuna, o destino nada mais é que a escrita do homem desde o seu nascimento. E mesmo antes de nascer já tem sua vida predestinada.
Daí em diante nada acontece ao acaso, nada ocorre sem que haja uma predestinação para tal. Os fatos acontecem não por coincidência ou circunstância, mas simplesmente porque a vida humana é assentada em forças que interferem nas ações. Mas as pessoas também podem ajudar ao destino. As pessoas, numa relação de causa e efeito, são também responsáveis pelo que de bom ou ruim possa lhe acontecer. Ninguém vai reparar fios de alta tensão sem a devida proteção achando que o destino lhe é favorável.
Logicamente que a concepção do destino enquanto força que comanda a vida confronta os princípios do cristianismo, segundo os quais somente Deus possui o comando de tudo, somente os planos divinos para fazer com que as coisas e os fatos aconteçam de determinado modo.  Mas não se afasta o destino como dádiva divina. Na verdade, não há outra força que comanda o destino senão a divina.
Quando alguém diz que algo aconteceu por vontade de Deus, igualmente está se referindo ao destino. Este não força nenhum acontecimento, apenas tem o fato como um marco, como algo que deve acontecer. Como um caderno ou agenda de Deus, o destino apenas faz cumprir o que for determinado a ocorrer. Do contrário, tudo na vida seria ao acaso. E nada acontece por mera casualidade.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com 

Nenhum comentário: