SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

LUA TRISTE


Rangel Alves da Costa*


A lua é sempre a mesma, desde quando avistada ao anoitecer até quando se mistura com o alvorecer e se esconde detrás do sol.
O que sempre muda é a sua feição, segundo a mudança de fase. E assim acontece quando muda de brilho e de poesia. Por isso a lua nova, a lua crescente, a lua cheia e a lua minguante.
Assim como a noite, a lua está sempre presente em todo lugar. São as condições climáticas que permitem avistá-la com maior ou menor perfeição. Um céu nublado desencanta o olhar enamorado pelo poema da noite.
Também a lua daqui é a mesma lua de lá, do Japão ou qualquer lugar. A noite muda de horário, mas não muda de cor, nem o firmamento se apresenta de forma diferenciada. Por isso que a lua encanta e sensibiliza onde quer que apareça imensa.
A lua possui o mesmo brilho segundo a fase em que esteja. Mas como a limpidez da noite depende da caminhada das nuvens, das condições atmosféricas e propensões chuvosas, então a lua fica na dependência de tais ocorrências.
Uma noite nublada esconde a lua. Nuvens que passam apressadas fazem avistar apressadamente o luar. Mas tantas vezes a chuva não impede que suas gotas se misturem à luz do luar. E que negrume se a lua é consumida pela escuridão do espaço.
Mas por que de repente se diz que a lua está triste? Por que ao mirar o imenso lume no meio da noite a pessoa chora, se enche de aflições e sente o mundo desabar sobre si?
Ora, mas a lua nunca esteve nem jamais estará triste. Não há lua triste, lua chorosa, lua lacrimosa, lua sorridente, lua canção ou lua grito de dor. A lua está apenas mais ou menos cheia, mais brilhosa ou apenas lua, mais anelada ou fininha querendo sumir. A lua é assim mesmo.
A lua é assim, porém as pessoas não. A lua lá em cima, entre nuvens ou não, é concebida segundo o sentimento da pessoa que a avista. O retrato lunar é premeditadamente fotografado pelo estado sentimental do sujeito.
A lua certamente estará sorridente se a pessoa lança o olhar já cheio de luz e contentamento. A lua não terá significação alguma, não passando de apenas uma luz lá em cima, se a indiferença for mais forte que a razão.
A lua será verso, poema, poesia, canção, retrato e carta de amor, se o olhar que a avista já estiver iluminado pelas forças amorosas do coração. E não raro que o apaixonado encontre uma lua cheia, brilhosa, intensa, onde existe apenas uma ponta de luz.
Dificilmente o poeta, o noctívago e o enamorado, não avistem o luar num contexto muito além do apresentado lá em cima. Não é mais apenas a lua, o anel luzente em si, mas uma auréola misteriosa e apaixonante que transforma os sentidos em divagações.
Contudo, segundo as propensões da alma, o estado de espírito e os desejos do sentimento, a lua outra aparência não terá senão de um retrato triste. Mesmo a lua cheia, imensamente grandiosa, descendo radiante sobre a vida, será avistada como tristeza, melancolia, angústia, dor e sofrimento.
Não há quem consiga avistar a beleza da lua quando seu íntimo fervilha de angústia. Não há quem enxergue a perfeição luminosa quando a mente padece com saudades e desilusões. Não há quem sorria perante o luar quando o instante tanto relembra momentos bons que não existem mais.
Assim, a lua se torna triste pelo olhar. Não há luar cuja beleza supra a presença de alguém. Não há luar que traga o abraço, o carinho, o conforto, o beijo. E a luz vai se derramando em pranto, a noite se tornando dor. E tudo tão imensamente triste.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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