SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sábado, 13 de dezembro de 2014

AS PESSOAS


Rangel Alves da Costa*


As pessoas e vão e vêm, retornam, depois seguem adiante, viram nas esquinas, se perdem na multidão, vão se tornando como sombras nos caminhos, e somem.
As pessoas caminham lentamente pelas calçadas, mais apressadas pelas ruas, quase correndo em determinadas ocasiões. Algumas sem qualquer pressa, outras passando por cima de tudo.
As pessoas passam com ar de preocupação, entristecidas, cabisbaixas, com feições angustiadas, parecendo querer chorar. E talvez estejam mesmo chorando em qualquer lugar da alma.
As pessoas são avistadas contentes, com aspectos joviais, transparecendo felicidade, cheias de vida e esperanças. Assim demonstram os olhares e as bocas prontas ao sorriso ou cumprimento.
As pessoas cumprimentam ao passar, olham nos olhos e sorriem, se mostram satisfeitas por reencontrar. Mas outras sequer dão atenção a quem esteja ao redor ou à sua frente, e tanto fez como tanto faz que existam.
As pessoas ora jogam papéis em lixeiras ora evitam sujar as ruas, mostram-se educadas e respeitosas com as ruas, cidades e pessoas. Nem todas assim, pois lixeiros são revirados, muros pichados, jardins estraçalhados, uma baderna em cada passo.
Uma está de óculos, outra vem de chapéu. Uma com saia rodada, outra de roupa de chita. Uma toda elegante, outra apenas ela mesma. Todas iguais como pessoas e tão diferentes no jeito de ser. Mas assim no homem e na mulher.
Um de celular ao ouvido, outro cuspindo ao chão. Um passando de bicicleta e outro parado na esquina. Um sentado no banco da praça e outro caminhando solitário pelos arredores do jardim de outono.
Os sentimentos seguindo com todos. Quem passa triste logo demonstra seu estado quase sem retoques. As alegrias são poucas pelos rostos. Mas dentro, no íntimo, a alegria ou tristeza, a angústia ou o contentamento, os sonhos ou as desistências, as esperanças e os tormentos.
Contudo, nada disso desperta mais interesse do que imaginar o que cada uma dessas pessoas vai levando nas suas mentes, vai tecendo em seus pensamentos, vai ajuizando e refletindo enquanto passa, enquanto caminha.
Ora, a mente humana é uma nuvem carregada de tudo e de nada, de calmarias e tempestades. Apenas se imagina o que poderá estar levando no seu formato, mas de repente e tudo some ou enegrece para se derramar em rios.
Ora, a mente humana é o baú de tudo, com seus diários, recordações, segredos e mistérios. A aparência nunca tem o poder de sequer fazer imaginar o que guarda no seu interior, nas suas entranhas.
A mocinha vai passando e leva consigo uma mente atormentada pelas dores de amor, pelas indecisões, pelas dúvidas da idade. Mas tudo talvez, pois muitas vezes nem sempre a própria pessoa consegue delimitar bem o que está pensando em determinado instante.
O velho, com passo lento, cabisbaixo, certamente segue com ar de preocupação. Já conhece tudo da vida, já foi experimentado pelas curvas e labirintos, mas o que será que leva agora na sua imaginação?
Alguém passa alheio à realidade e conversando sozinho, baixinho. Fala e responde a si mesmo. Interessante esse diálogo que só cabe à própria pessoa desvendar suas motivações. E por isso mesmo aguça ainda mais a imaginação de quem apenas o vê passar.
Um moço entristecido num banco de praça. Uma mulher que parece querer gritar enquanto segue apressada. Uma pessoa que vai e decide retornar da esquina. Por que assim, quais as motivações, o que se passa nas suas mentes?
Mistérios, apenas. No misterioso mundo da mente humana.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com 

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