SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

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segunda-feira, 3 de novembro de 2014

MUITO ALÉM DO HOMEM


Rangel Alves da Costa*


Mesmo os mais descrentes na existência divina e do seu poder sobre o homem, certamente haverão de concordar que a existência humana está submetida e condicionada a forças superiores. Do contrário, seria acreditar que tudo acontece ao acaso ou como consequência da própria ação humana, eis que é o homem o senhor e dono de seu destino e se mostra suficientemente responsável na sua ação terrena. Mas então haveria de se indagar: Por que este poderoso homem se mostra impotente diante, por exemplo, de uma chuva mais forte?
Não há que duvidar do poder do homem. Foi criado com o dom da superioridade sobre os demais seres terrenos, recebeu o dom da razão e da inteligência para sempre progredir na sua existência, possui o discernimento na ação e a liberdade para agir. Mas como dito, tudo lhe confiado pelo seu criador, pois não surgiu ao acaso nem é fruto de laboratório da natureza que cruzando espécies fez surgir exatamente aquele que é imagem e semelhança de quem lhe deu sopro.
Até que poderia ser frágil e quebradiço, pois moldado no barro para ganhar forma e vida. Mas se tornou forte e poderoso. E depois do sopro, além da razão, do saber e da força, todo o mundo a seu dispor. Para agir, para trabalhar, para lutar, conquistar, transformar, limitado apenas pelos compromissos assumidos perante o seu criador. E obrigações de ordem moral, espiritual e de convívio perante os seres da mesma e de outras espécies. Mas compromissos desde muito descumpridos e que, por isso mesmo, foram provocando no homem a ilusão do demasiado poder que verdadeiramente não possui.
Foi essa utopia de mando sobre tudo e ilusão de reinado absoluto sobre a terra que acabaram distanciando o homem de seu criador e agindo como se de nenhuma valia fossem as forças divinas ou superiores. É como se a vida, o mundo e tudo nele existente fosse obra do próprio ser humano e a este cabendo moldá-los ao seu modo. E para tal conta com inteligência suficiente para criar e transformar, para fazer e desfazer, sem que disto tenha de prestar contas a quem quer que seja. Ledo engano.
Como afirmado, ao homem foi dado a razão e a sabedoria. E assim foi feito para que se mostrasse capaz de suprir suas necessidades sobre a terra. Por isso mesmo que aprendeu a caçar, a pescar, a se proteger, bem como todas as conquistas desde os tempos mais primitivos. E neste passo incluem-se o advento das tecnologias mais modernas, os avanços científicos, as pesquisas fundamentais para a vida humana. Há de se observar, contudo, que tudo isso já havia sido previsto desde a sua criação.
Inegável que o homem alcançou um patamar primoroso de conhecimento. O advento das novas tecnologias faz até supor acerca do seu poder ilimitado para fazer surgir mecanismos que jamais poderiam ser imaginados como possíveis. Ontem o rádio, a máquina de escrever, e depois o computador e todo um aparato tecnológico, e ainda depois a nanotecnologia, a internet, os aplicativos e uma infinidade de proezas de ponta. E amanhã certamente surgirão tecnologias que tornarão ineficazes e obsoletos os equipamentos mais modernos.
É a inteligência humana a responsável por toda essa transformação. Sempre haverá um homem manejando a ciência, produzindo pesquisa, fazendo surgir os inventos. De tal modo é o seu poder de transformar e inovar que logo se imaginaria possuir realmente o poder sobre a vida e o mundo. Contudo, é neste passo que surge outra necessária indagação: Por que, por mais que utilize todas as potencialidades científicas, o homem não conseguiu encontrar soluções para problemas antigos que afligem a humanidade?
Antes de responder, urge que se retome o questionamento proposto no início acerca do imenso poder do homem e a sua ineficácia diante de um simples acontecimento natural como uma tempestade. E logo se visualiza situações onde a inteligência humana se vê totalmente inoperante diante das mudanças climáticas, da ação das forças da natureza. E logicamente seria de se esperar que o senhor da ciência e do saber desde muito já teria encontrado soluções para combater tais problemas. Mas não, continua sendo desafiado a mostrar seu real poder.
A verdade é que mesmo o conhecimento humano tendo alcançado um nível tão elevado e mais tarde ainda possa superar suas conquistas, continuará com poder de ação e interferência apenas limitado. E muitos são os exemplos onde a ciência jamais proporcionou soluções eficazes para problemas antigos. O homem foi à lua, conquista o espaço, mas não consegue produzir remédios para determinadas enfermidades. De vez em quando surtos e epidemias surgem para mostrar o quanto a vida continua desprotegida. O ebola é o caso mais recente de fracasso da ciência no combate às situações previsíveis.
Como, então, explicar as situações que fogem ao poder do homem? Evidencia-se, pois, a existência de uma força superior, muito além da humana, que serve para delimitar o que é de Deus e o que é do homem, o poder de um e do outro. Conclui-se também que ao homem foi permitido conquistar, mas que jamais se arvorasse de ser dono e possuidor da vida. E por isso mesmo continuará sendo desafiado a respeitar os limites estabelecidos pelo seu criador.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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