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domingo, 19 de outubro de 2014

VOCÊ CONHECE ALGUM PUXA-SACO?


Rangel Alves da Costa*


Que atire a primeira mentira quem não conhecer algum puxa-saco. Infelizmente conheço muitos, dezenas, centenas, desses imprestáveis na vida. Imprestáveis não, pois se prestam com eficiência, sem vergonha ou pudor, à indigna arte da bajulação, da lambidela, da adulação, do amanteigamento.
Conceitualmente, tem-se o puxa-saco como aquele indivíduo que se presta a paparicar o outro tencionando receber qualquer consideração. Para ser agraciado com alguma coisa, torna-se excessivamente admirador do outro, seu defensor intransigente, espalhando somente virtudes. Não apenas concorda com tudo que o bajulado faz como se dá ao trabalho de torná-lo como verdadeiro endeusado.
O chefe não abre a porta, eis que o adulador já se adiantou para lhe dar passagem. Um sapato empoeirado não é problema, vez que o puxa-saco arruma logo um lenço para esfrega-lo. Aproxima a cadeira, serve café, pergunta se quer água, ajeita o nó da gravata, acaricia o paletó, só faltando perguntar se quer que lhe beije os pés. E beija mesmo. Não tem nenhum limite ou vergonha na cara para agradar o chefinho.
Ouve atentamente cada palavra que digam sobre o bajulado e vai correndo soprar aos ouvidos a fofoca da vez. Acaso alguma coisa não lhe pareça justo, parte pra briga, discute, vira mesa e vira mundo. E age de tal forma que até se imaginaria estar, ele próprio, sendo aviltando, achincalhado. Mas não, como não tem honra procura defender a honra do outro e custe o que custar.
Assim, é próprio do puxa-saco tomar as dores do outro. Não só toma as dores como serve de lança e escudo. É capaz de dar a cara a tapa para não ver seu admirado ofendido. E age tão cega e desavergonhadamente que acaba interiorizando suas fantasias e ilusões. Como um apaixonado, se entrega de corpo e alma à causa do bajulado e chega até a pensar e repensar nas melhores palavras toda vez que a ele tem de se dirigir.
O puxa-saco também é especialista em mentir, não só para o bajulado como a para a população. Jamais transmite qualquer coisa que enraiveça ou não seja do agrado do adulado. Mas age diferente quando sente alguma ameaça nos seus planos. Então vai dizer ao seu amado que este ou aquele estava mentindo a seu respeito, maculando sua honra. Tudo na tentativa de não ter sua subserviência ameaçada por quem quer que seja.
Alguns bajuladores agem tão descaradamente que ninguém mais acredita nas suas palavras nem nas suas defesas. Ora, todo mundo sabe que o bajulado não presta, que não vale um tostão, mas ainda assim insiste em florear suas ações, perfumar seu caráter, torná-lo purificado. Já outros se utilizam de ideologias partidárias para vender o seu peixe. Pensando em ser lembrado num cargo em comissão ou coisa parecida, então levanta bandeira, faz inflamados discursos, vai mostrando o candidato como possuidor de todas boas virtudes.
Muitos têm o puxa-saquismo como uma arte, pois ofício de construção de uma imagem a qualquer custo e sem medir consequências. Já outros o têm como mero exercício de adornamento tentando obter algum benefício ou proteção. E ainda outros como pura safadeza, como prática vergonhosa de se pensar, cuidar e defender muito mais o outro do que a si mesmo.
E os sinônimos são muitos. Assim, é o mesmo puxa-saco aquele que é visto e comentado como baba-ovo, bajulador, sabujo, lambe-botas, adulador, pelego, lacaio, lambedor, chaleira, xeleléu, babão, servil, dentre muitas outras desonrosas denominações. São encontrados facilmente, eis que ao lado de político sempre há um puxa-saco, bem como como do governante, da autoridade, do superior.
A verdade é que é reconhecível demais em qualquer situação. Como erva daninha, espalha-se vergonhosamente pelos quatro cantos. Conheço alguns que se tornaram dignos de piedade, pois jamais conseguiram nada na vida com seus ofícios. Mas continuam lambendo sapatos e ajeitando gravatas. E você, conhece algum?


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com 

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