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sábado, 4 de outubro de 2014

O GRITO DAS RUAS SERÁ TRANSFORMADO EM SILÊNCIO NAS URNAS?


Rangel Alves da Costa*


Ainda há tempo para a busca da felicidade. Creio profundamente nessa possibilidade. Diante de tal perspectiva, creio também que ainda resta um pouco de consciência, de razão e sensibilidade nos milhões de eleitores que logo mais estarão escolhendo o próximo governante maior do país. E o mesmo vale para governadores, senadores e deputados.
Contudo, diante das últimas pesquisas, não posso deixar de temer que o grito das ruas seja transformado em silêncio nas urnas. Por outras palavras, chega a assustar a possibilidade de repentinamente aqueles manifestantes de junho do ano passado ou mesmo todos aqueles que sofrem na carne, no bolso e na mesa, se transformem em eleitores de seus algozes.
Seria lamentável observar que o povo que tanto exigiu mudanças, bradou pela moralidade na política, mostrou os porões putrefatos do poder e exigiu o fim da corrupção disseminada em todas as esferas palacianas, agora recue, se contradiga, queira carregar sobre si a culpa por acolher e reeleger quem lhe relega um país sem esperanças.
Seria deplorável avistar aquela mesma multidão que ontem levantava revoltosas bandeiras, gritava indignações e até confrontava as armas, agora caminhando em direção às urnas para votar naqueles que tanto chamou de corrupto, ladrão, mau gestor, mentiroso, inerme no poder. Tudo devidamente aplicável também à mandatária maior, sob cujos grilhões o povo brasileiro tanto padece.
As ideias foram esquecidas, os pensamentos esvaziados e os guerreiros derrotados por si mesmos, pela sua covardia, pelo seu conformismo e aceitação do pior como destino que lhe afeiçoa. Triste pensar assim, principalmente quando a letra do hino diz que o filho teu não foge à luta. Triste agora sentir um povo parodiando outra estrofe de seu hino: Deitado eternamente em escravismo esplêndido!
Será que os ecos do passado distorcem as palavras, os gritos, ou aquelas vaias e achincalhes proferidos nos estádios contra a presidenta Dilma se transformaram em vivas e agradecimentos? Será que a educação brasileira é de tamanha qualidade ao ponto de o povo aprender que inflação alta é coisa boa, que uma vergonhosa esmola é demonstração de cuidado com o povo, que o governo não tem culpa alguma quando a nação é roubada pelos seus próprios agentes?
Será que o senso tropical do povo brasileiro e sua verve naturalista acabaram incutindo na sua mente que é assemelhado ou igual àquela simbologia dos três macacos: um não ouve, outra não fala e o outro não vê? Estaria ali a caracterização perfeita do eleitor brasileiro? Ou a idiotice lhe acometeu a tal ponto de não mais se reconhecer como gente e se compraz em servir aos objetivos escusos e sempre corruptos do PT? Não se deveria falar mal dos generais, das botas cruéis da ditadura, dos terríveis porões. Ora, Dilma é tão ou mais cruel, mais bruta, mais impiedosa e arrogante que o mais cruel dos generais daqueles tempos terríveis.
Eis a dissimulação em pessoa. Aquele sorriso esconde o veneno e o fel, aquele aceno esconde a mão generalesca que sustenta a sua impiedosa arrogância. Se os seus subordinados temem tanto o seu autoritarismo, ditatorialismo e prepotência, que se imagine o povo humilde, o zé-ninguém debaixo de suas solas. E de uma teimosia sem igual. Tudo vai mal e a insistência em maquiar os fatos. Por consequência, uma mentirosa também sem igual. Ou o povo não encontra a verdade quando precisa de hospital, quando faz compra ou quando é jogado à violência?
De repente, imagina-se viver num país com duas faces totalmente diferentes. Aquele alardeado pelo governo, onde tudo está às mil maravilhas, tudo funciona com qualidade, tudo de primeiro mundo. Não há inflação, não há corrupção, há controle absoluto na economia, tudo de fazer inveja aos países mais desenvolvidos. E aquele outro país, o real, o verdadeiro, contradizendo em tudo as mentiras e os engodos palacianos.
Surge, então, o questionamento: Votar na Dilma do país da mentira ou mostrar a ela que vive num país de verdades estarrecedoras? Votar na Dilma que engana, que mente, que é arrogante, autoritária e prepotente, ou mostrar a ela que o país precisa de um governante decente, sincero, humano? Cabe a cada eleitor escolher. Mas, segundo as últimas pesquisas, a maioria prefere mesmo viver num país de faz-de-conta e com uma governante que também faz de conta que o povo existe.
Mas seja o que Deus quiser. Mas é melhor deixar Deus fora disso, ainda que ele a tudo observe e se questione: Onde foi que eu errei com esse povo brasileiro?


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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