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domingo, 10 de agosto de 2014

CASTELOS, REIS E REINADOS


Rangel Alves da Costa*


Mesmo pisando o áspero chão da realidade e os caminhos tortuosos do tempo presente, tenho o passado como algo inseparável. Sou verdadeiramente apaixonado pela História, por fatos e acontecimentos históricos, pelos antepassados, por tudo aquilo que permita um reencontro com o antigo, ou mesmo de um tempo não muito distante.
Tenho verdadeiro prazer em ler a respeito dos reinados medievais, com seus reis com insígnias de sangue e brasões envoltos em herdades e conquistas, bem como com seus cavaleiros guerreando pelos campos, guerreiros intrépidos com suas lanças e armaduras. À frente a bandeira com a cruz e a espada entrelaçadas, num misto de fé e ferocidade somente explicado pelas razões do seu tempo.
Fico imaginando como teria sido o cotidiano num imenso castelo, de torre e calabouço, com seus imensos salões, suas fortificações e seus labirintos escurecidos. Construções imensas, portentosas, erguidas na pedra bruta e no suor da servidão. Dependendo da força e do poder do reinado e seu soberano, avistar o luxo do rei, a coragem dos fiéis cavaleiros, a tristeza da princesa apaixonada, a vida tão difícil do servo e do aldeão. Tudo isso me chega como um filme fascinante.
Como nas páginas de As Brumas de Avalon, ponho-me a imaginar os segredos e os mistérios daqueles tempos medievais. Um tempo sombrio, de batalhas cruéis, dolorosas, tantas vezes norteadas no seu desfecho pelas forças ocultas. Sim, pois um tempo também de magias, bruxarias, enfeitiçamentos, de oráculos e bacias sendo invocados em nome do futuro do reino e da vitória na guerra. E os cavaleiros seguindo em meio às brumas espessas para cumprir seus destinos. E em meio a tudo, por entre aquelas névoas cinzentas, as surpresas e as coisas do outro mundo tão ameaçadoras.
Vejo a fumaça subindo das chaminés, tomando as aldeias, o pão de água e trigo sendo amassado para ser levado ao forno de lenha, a humilde aldeã recolhendo qualquer alimento pelos campos já ressequidos. E também o bobo da corte querendo a todo custo alegrar um rei entristecido demais pela velhice que vai domando suas forças. O vinho cai sobre o cálice, o cacho de uvas ao redor, o pão e os assados sobre a mesa, o olhar lá do ponto mais alto da torre: tão pujante e tão triste é o reino.
Os reinos medievais agora são apenas história, mas os seus castelos, mesmo corroídos pelo tempo, ainda são encontrados nas terras mais elevadas do continente europeu. Muitas dessas construções, num misto de fortificação e moradia de reis, continuam desafiando as intempéries e ainda estão imponentemente erguidos nas montanhas ou nos rochedos de difícil acesso. Muitos já se transformaram em escombros, em verdadeiras ruínas, mas ainda assim permanecendo como marco histórico de suma importância.
Muitos daqueles países europeus surgiram dos reinos primitivos e seus soberanos intrépidos, conquistadores e unificadores. Inglaterra, Escócia, França, Dinamarca, Espanha, Portugal e tantas outras nações modernas, surgiram a partir de um pequeno reino ao redor de um castelo. Não raramente os próprios reis também saíam para guerrear, para submeter outros povos e aumentar suas terras. Por isso muitos soberanos morreram tão jovens e deixaram herdeiros que abriram guerras entre si, dividindo o reino e plantando a semente de outras nações.
Mas não somente os reis mandavam erguer imensos castelos. As classes poderosas de então, geralmente fazendo parte das administrações reais, também recebiam uma imensidão de terras e logo procuravam erguer suas moradias suntuosas, fortificadas. E assim as terras europeias foram sendo pontuadas por castelos por todos os lugares. E muitas dessas fortalezas continuam imponentes e suntuosas. Muitas delas nem precisaram de muitas reformas, mas outras tiveram de receber intervenções para continuarem com a grandiosidade que ainda hoje se avista.
Creio que não há quem não fique deslumbrado diante de um castelo europeu, ainda que seja dos mais modernos. Imensas construções, dezenas de quartos, salões, dependências e aposentos, e tudo geralmente rodeado por belíssimos e sempre verdejantes jardins. E também fontes de águas cristalinas ao redor de estátuas e caminhos floridos. E como os poucos reis modernos só usam os castelos como locais de veraneio, os outros são destinados a museus ou simplesmente abertos a visitação pública.
Contudo, o que me causa verdadeira inveja é saber que muitos desses castelos são habitados por familiares de antigos proprietários. Quer dizer, pessoas quase comuns (se não fossem os brasões familiares e a riqueza) utilizam os castelos como moradias comuns, onde vivem, adormecem e amanhecem. E eu querendo apenas entrar num daqueles portões, tocar nas pedras antigas, abraçar as colunas imensas e gritar: História, estou aqui!


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com 

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