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segunda-feira, 26 de maio de 2014

A POLÍTICA E A FEIRA DE CONVENIÊNCIAS


Rangel Alves da Costa*


Há logo que se indagar: Para apoiar determinada candidatura, a liderança política deve pensar somente em si mesma, nos frutos que desse apoio possa receber, nas determinações e propensões de seu partido ou dos anseios da população que lhe apoia e dá sustentação? E ainda: A liderança tem o direito de barganhar, de buscar conveniências pessoais, quando a decisão deveria partir de uma lógica não só partidária como de respeito a seu eleitorado?
Tais indagações deveriam ser induvidosas para aqueles políticos de peso nas suas decisões de apoiamento a candidatos a cargos majoritários. Induvidosas porque não se concebe uma liderança nata que não tenha firmes decisões, posicionamentos coerentes e politicamente claros. Ao menos seria assim se a arte da política não fosse transformada em repugnante feira de conveniências e com desrespeito a uma série de fatores essenciais.
Ora, o simples fato de apoiar um ou outro candidato envolve aspectos muito além de um mero ato de dizer que escolheu aquele porque é o melhor. Melhor para quem? Daí haver um contexto maior que deveria ser observado no ato de decidir. E tal contexto envolve esferas como a cúpula nacional do partido ao qual a liderança está filiada, o posicionamento político do partido em nível federal, a atuação na esfera estadual, os agrupamentos ou coligações, bem como os objetivos partidários a curto e longo prazo.
Mas envolve muito mais, principalmente em nível estadual e no contexto onde o político construiu sua liderança. O político, ainda que alçado ao reconhecimento de liderança maior do partido no estado, não pode decidir à revelia dos ditames nacionais. E se nacionalmente o partido já tem posições firmadas, já sabe quem deva apoiar ou não, estará blefando a liderança que continuar transparecendo indecisão na sua escolha. Ainda que o partido dê carta branca para decidir, jamais será conveniente se prolongar em cima do muro. Neste aspecto, visível desrespeito ao eleitor.
O eleitor que não encontra firmeza na liderança que confiou deixará de apoiá-lo nas eleições seguintes. Este o caminho lógico. E pior ainda, eis que a indecisão poderá provocar um dano irreparável no futuro político da liderança, principalmente se o se votante ao menos desconfiar que a demora em apontar qual seja o seu candidato possui motivações muito mais pessoais que partidárias. Sim, porque o eleitor poderá chegar à conclusão que o objetivo maior da liderança não é escolher o melhor para governar, mas sim o melhor para si mesmo.
E quando a liderança comete o erro de só pensar em si mesmo, nos seus conchavos e projetos políticos, e não no futuro de seu estado e sua população, estará irremediavelmente fadado a não contar mais com o apoio que imagina ter nos futuros pleitos. E isto ocorre pelo simples fato de que o povo não vive mais atrelado às tais lideranças como antigamente, não faz mais parte de currais eleitorais e nem está mais inteiramente acometido de cegueira política como muitos ainda imaginam.
Ainda que não aconteça com a totalidade da população votante, a verdade é que o peso da consciência crítica está fragilizando muito as estruturas daqueles que ainda se afeiçoam às velhas raposas da política e suas carcomidas práticas eleitoreiras. A massa cada vez mais pensante, ainda que não repudie de vez as antigas e ainda prevalecentes práticas interesseiras e vergonhosas na política, não mais admite que o político ou governante disponha de seu mandato ou liderança a seu bel-prazer e faça disso um tabuleiro de conveniências.
A liderança política, principalmente aquela que objetiva alcançar o poder eletivo, deve saber que não está atrelado somente aos anseios pessoais. Não deve tomar decisões por conveniência própria nem tentar iludir seus eleitores com as escolhas feitas. Como afirmado, o eleitor tirou a rédea e o cabresto que lhe colocava numa posição de cegueira e submissão para se firmar como alguém que merece respeito. E tal respeito também parte das decisões claras, objetivas e coerentes tomadas pela liderança. Por consequência, tornou-se muito mais difícil impor que eleitores votem em determinado candidato simplesmente pelo fato de que é o melhor para os planos pessoais do líder. Pode até ser o melhor para a liderança, mas não para governar o estado, por exemplo.
Ademais, o líder só se legitima perante seus correligionários e eleitores quando não tenta impor candidato. Para este ser apoiado, haverá também de ser apoiado pelo partido e principalmente pelo votante. Querer fugir disso, fazer diferente, é estar agindo egoisticamente, fazendo barganha com o voto dos outros e agindo segundo as próprias conveniências. Inadmissível, pois, que o apoio dado por uma liderança assim aconteça porque o escolhido fez sigilosas promessas ou porque há mágoas pessoais com o outro candidato ou este não conseguiu cobrir a oferta do oponente.
Fato é que as velhas raposas da política conhecem muito bem aqueles que são mais preparados para governar e, portanto, para serem votados. E se não decidem logo pelo apoio é porque estão blefando ou jogando com a carta dos outros. Ou seja, estão fazendo o jogo das conveniências pessoais e não estão nem aí para os destinos do estado nem da população. Somente eles. O resto que se lixe.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com    

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