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quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

QUEM TEM MEDO DE SER BIOGRAFADO NÃO VIVE FAZENDO BESTEIRAS


Rangel Alves da Costa*


Repito: Quem tem medo de ser biografado não vive fazendo besteiras. Toda essa problemática envolvendo as biografias - e que já se prolonga desde o ano passado - diz respeito, única e exclusivamente, ao medo de figurões em ter seus lados ocultos revelados. Ora, que ajudem a pureza da própria história, produzam mais e façam menos asneiras.
É uma situação deveras complicada para quem se dispõe a descrever acerca do percurso de da vida de um famoso. O próprio conceito de biografia, enquanto a descrição do percurso da existência e dos feitos de alguém, não comunga com a ideia da parcialidade. Ou a pessoa é ou não é, ou fez ou não fez, sem restar margem para revelar apenas o lado bom de cada um.
Talvez o problema esteja no endeusamento que determinados famosos chamam para si. Estando acima do bem e do mal, fazendo da fama uma forma de que os holofotes iluminem apenas o lado que desejem, deixando no esquecimento suas feições menos louváveis, então tudo fazem para que ninguém se intrometa naquilo que chamam de intimidade ou privacidade.
Contudo, esquecem que são as suas intimidades que mais provocam arrepios, revelando pessoas totalmente diferentes daquelas que aparentam ser. Ademais, impossível contar a história da vida de alguém apenas pela sua arte, pela sua produção cultural, pela importância que possui. A feição artística não está separada do lado humano, e é neste que está o real jeito de ser, sua personalidade, suas características pessoais.
Um cantor, por exemplo, não é apenas uma pessoa de palco, de shows e compromissos artísticos. É um ser humano, e para o bem ou para o mal é alguém que vive seu cotidiano familiar, de amizades, de vícios e virtudes. E uma biografia escrita a seu respeito jamais poderia deixar de citar, e até esmiuçar, esse seu lado comum, enquanto pessoa que faz, que erra e acerta.
Ademais, biografia não se presta a se transformar numa cronologia de vida, na mera citação de fatos mais importantes na vida de alguém. A pessoa não vive apenas somente de realizações, mas também enfrentado problemas e dificuldades, num cortejo de sorrisos e lágrimas. E porque os seus acertos são devidamente citados, logicamente que os erros também devem ser conhecidos. Afinal, os erros fazem parte da história pessoal e jamais podem ser apagados, ainda que provoquem dolorosas marcas pelo resto da vida.
Parece que não atentam para o fato de que o mundo das celebridades, a vida de famosos e de personalidades não pode ser comparável ao mundo dos mártires e santidades. Se nestes há lados verdadeiramente obscuros e deploráveis, que se imagine em meio a muitos que alcançaram e se mantêm na fama a custa do inimaginável. E o medo maior, pois, é que os lamaçais de repente reapareçam putrefatos nas páginas de um livro.
Muitas vezes nem precisa de biografia para que o povo saiba dos reversos da vida de muitas celebridades. Surgirá como normalidade a boemia, o homossexualismo, o uso de drogas, os desencontros familiares, os amores inconstantes, os vícios, as derrocadas, os abismos e precipícios. E por que desejam tanto que descrevam apenas seus lados heróicos, suas grandes realizações, as características positivas de suas personalidades?
Se é assim que tanto desejam, e até brigam judicialmente para que desse modo seja, então que procurem construir uma história digna de jamais ser maculada. Ademais, a mácula não é criada nem inventada, apenas trazida ao conhecimento de um público que estava vendo apenas uma feição naquela pessoa. De repente, o conhecimento do outro modificará o conceito que se costumou.
O que o biógrafo não pode e não deve é fazer da inventividade e da mentira meios para o sucesso de sua obra. Tais aspectos são deploráveis até mesmo em revistas e jornais sensacionalistas. Exigindo em tais casos a devida reparação ao dano causado. No restante, que os baús sejam abertos e desvendados as flores e os espinhos.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com    

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