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terça-feira, 2 de julho de 2013

A POLÍCIA TUCANA DESMORONANDO O IMPÉRIO LULISTA (Artigo)


Rangel Alves da Costa*


Mesmo que não tenha sido ação perpetrada intencionalmente, nunca o exacerbamento da violência policial serviu tanto a propósitos políticos, como agora se verifica após a truculência da Tropa de Choque paulistana contra manifestantes no último dia 13 de junho. Verdade é que bombas acabaram explodindo exatamente no até então indestrutível império lulista.
Foi exatamente a partir dessa data e como consequência da brutalidade repressora - em seguida defendida como necessária pelo governo Alckmin -, que os grupos manifestantes acirraram ainda mais suas disposições e passaram a empreender novos e mais fortalecidos protestos. E estes se espalharam pelo país como fogo de pólvora em tempo de desolação.
Mais tarde os livros de história, na análise que farão da então denominada Revolução das Tarifas, estamparão não mais os protestos contra as tarifas nos transportes coletivos como elementos causais do despertar social, mas sim a brutalidade policial como a causa principal do acirramento da luta do povo. E também pelo retumbante estremecimento das estruturas políticas e palacianas.
Talvez tudo não passasse de mais um protesto, de uma justa reivindicação organizada pelo Movimento Passe Livre, se a revide policial, e da forma como foi levada a efeito, não tomasse a dimensão que tomou. A cega brutalidade da Tropa de Choque, investindo violentamente até mesmo contra meros transeuntes e fazendo de algoz qualquer um que encontrasse pela frente, teve imediata repercussão nacional e internacional, não passando despercebida pela ONU.
Após os jornais, as redes televisivas e as redes sociais estamparem manchetes como “Polícia Militar utiliza violência para reprimir protesto em São Paulo”, “Manifestantes são vítimas da violência policial”, “Tropa de Choque causa terror entre inocentes e manifestantes”. Quatro dias depois, como consequência da brutalidade do dia 13, a manchete já mostrava outro dimensionamento dado ao protesto, agora focando também na arbitrariedade policial: “São Paulo reúne multidão contra tarifa de transporte e violência policial”.
Quer dizer, ao problema das tarifas foi acrescida a violência policial. E no passo seguinte cartazes e faixas já apontavam as indignações contra as obras superfaturadas da copa do mundo, a PEC 37, o pastor Feliciano e sua cura gay, a falência total dos serviços públicos, o descontrole da inflação e o alto custo de vida, a desenfreada corrupção e a impunidade. E tantos outros motes de um povo que passou a ver em cada protesto a oportunidade de soltar seu grito de revolta.
Por dias seguidos, estupefatos, atabalhoados, verdadeiramente atônitos, políticos e a governante maior silenciaram em suas tocas. Ninguém dizia absolutamente nada, ainda que a imprensa e a população cobrassem a todo custo. Em estado de catatonia, primeiro procuraram se refazer do susto e compreender o que estava realmente acontecendo. Em seguida, ainda estremecidos e sem a exata noção das motivações, acabaram buscando qualquer saída para salvar a própria pele e as instituições que representam.
Verdade é que de uma hora pra outra o povo fez despertar o Congresso Nacional, os governantes estaduais e municipais, e principalmente o Governo Federal. Cada um chegou com uma bandeja de soluções, desencavando reclamos desde muito adormecidos, imediatamente votando projetos de interesse do povo. E sendo forçados a acatar os desejos das ruas.
Contudo, foi a presidente Dilma que mais se viu em apuros. Se a sua popularidade já andava oscilando negativamente antes dos protestos, os fatos novos a colocaram numa sinuca de bico. Antes inatacável, fortalecida pelos programas assistencialistas que mantém, sustentada nas sombras do lulismo, de repente viu que não podia mais negar a outra realidade que tentava esconder. Mas tudo em parte, pois reconheceu a precariedade na saúde, na educação, nos transportes e na mobilidade urbana, mas não tocou na ferida da economia nem reconheceu os gastos absurdos e superfaturados com a copa do mundo.
Tentando a todo custo salvar sua reeleição, o que a presidente fez foi prometer e prometer muito mais, como se ainda estivesse em campanha e o seu governo jamais tivesse se preocupado em enfrentar os problemas sociais agora surgidos. Mas agiu tarde demais. Um governo não se faz do final para o início, voltando, mas numa continuidade de ações.
E no último sábado, dia 29 de junho, o Jornal Folha de São Paulo publicou pesquisa sobre a popularidade da presidente após o início dos protestos. Se a situação já era melindrosa, agora descambou de vez. A aprovação nacional de Dilma despencou de 57% para 30% em três semanas, com uma queda de 27 pontos. Desde que tais pesquisas começaram a ser realizadas, um presidente jamais teve sua popularidade reduzida tão vertiginosamente.
Tal queda, a continuar assim, significa também o desmoronamento do império lulista. Um tiro de bala de borracha da polícia tucana certamente afetou a fachada de vidro do grande império. O seu soberano talvez esteja juntando os cacos para ver o que pode salvar. Mas por enquanto continua calado. Bem ao modo de quem nunca sabe de nada.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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