SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sábado, 15 de junho de 2013

SALVE, INCENDIÁRIOS!!! (Crônica)


Rangel Alves da Costa*


A respeito das últimas manifestações populares em protesto contra os aumentos nas tarifas de ônibus de São Paulo, Rio de janeiro e Porto Alegre, e os gastos com e estádio Mané Garrincha, em Brasília, alguém, acertadamente, já disse que as fumaças espalhadas indicam incêndios maiores. E que ainda eclodirão.
Verdade é que o pavio da revolta está aceso e não será fácil debelar esse fogo depois que se alastrar pelos quatro cantos do país. E não é sem motivos que as revoltas, as indignações, a saída do povo às ruas em protesto, já estão pontuando, pipocando pelas capitais. Aos poucos o povo vai se encorajando ao protesto, e de repente milhares de pessoas estarão às ruas reivindicando direitos. Ao menos é isso que se espera das camadas insurgentes.
Nos outros países, principalmente os europeus, as manifestações justificadas já teriam eclodido com maior vigor. Por lá não se relega ao esquecimento os abusos governamentais. Diferentemente da brasileira, a população europeia não suporta ser achincalhada nem esmagada por muito tempo sem que tome as praças para mostrar suas insurgências e insatisfações.
O povo brasileiro acostumou-se a uma passividade doentia. Por aqui, a classe governante pode tomar medidas absurdas contra o povo, diminuí-lo com as carestias e as altas inflacionárias, manter vergonhosas redes de corrupção que, ainda assim, o povo silencia e cruza os braços, se vitimando por conta própria. É preciso que surja algum movimento organizado tocando fogo no primeiro pneu para que as autoridades entrem em alerta.
Será, pois, sempre legítima, legal e justificável, toda e qualquer ação reivindicatória que parta da população. O povo não pode ficar apenas sentindo na pele e no bolso os desmandos políticos, e ainda assim permanecer na quietude dos submissos, dos escravizados. Já é o momento de dar um basta nesses poderes extravagantes, nas medidas tomadas contra a sociedade, nas atitudes tomadas para ferir ainda mais a honra e a dignidade do povo trabalhador e cada vez mais penalizado.
O que não é legítimo nem aceitável num país que se diz de direito e democrático, é que os próprios governantes coloquem a polícia - paga pela própria sociedade - para impedir as justas manifestações com barbarismos, arrogâncias, brutalidades, exacerbação da violência. E o que mais revolta é saber que os ditadores de plantão, os governantes eleitos pelo povo, afirmem que a polícia apenas estava fazendo o seu dever em defesa do patrimônio publico.
Senhores governadores, senhores prefeitos, nada justifica a violência gratuita, a brutalidade desmedida, a selvagem arrogância, o desrespeito total à incolumidade física de pessoas que nas ruas estavam apenas manifestando suas revoltas, suas indignações.
Diferentemente dos governantes, que sempre veem seus covardes brutamontes tratando pessoas com cordialidade, todo o restante da população brasileira viu as vergonhosas cenas com as barbaridades praticadas pela elite aterrorizante das polícias. Balas de canhões, bombas de efeito moral, gases lacrimogêneos, armas e cassetetes em punho; enfim, um aparato de guerra sendo usado contra o povo. E qual o crime cometido? Protestar contra atos governamentais que vão de encontro à população.
Que tais episódios - ainda que de violência desmedida por parte da polícia - sirvam de exemplo e encorajamento para futuras lutas, para futuras batalhas se preciso for. Que os incendiários não se contentem mais em acender pequenas fogueiras, mas que procurem disseminar as labaredas maiores da ferrenha irresignação toda vez que governantes sádicos e ditatoriais tomem medidas esdrúxulas e depois defendam risonhamente as criminosas ações de suas tropas.
Com razão a minha colega advogada Meirivone Aragão, que em postagem no facebook assim se manifestou: No Brasil o ato de reivindicar é mal visto, criminalizado, marginalizado. Só aplaudimos a multidão que se arrasta embriagada atrás dos trios ou a que goza o êxtase coletivo dos estádios. Atos de protesto coletivo costumam ser pacíficos até a intromissão da polícia, ordenada por um governo que não aceita críticas, por um sistema que se protege unido. Quanto ao povo que grita? Baderneiros, vândalos, desocupados! O respeito ao exercício do legítimo direito de resistência ainda é lição a aprender. "E a resposta, meu amigo, continua soprando ao vento..."
Que as labaredas nunca apaguem. Precisamos de mais incendiários que aticem chamas nesse circo de corrupção e truculência. Quem viver verá!!!
  

Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com     

3 comentários:

Jonatas Rubens Tavares disse...

Muito bem colocado. É chegada a hora deste despertar coletivo. Abraço.

PERSEVERÂNÇA disse...

Feliz sabado, Rangel!
Que postagem forte e necessária.
E tam mais nossos governantes usam apenas de palavras, mas na prática sabemos que são as leis não cumpridas que garantem essa baderna em SP e no Brasil, isso em vários seguimentos.
Parabéns pela postagem
Abraço fraternal
Nicinha

Fábio Murilo disse...

“É um fenômeno curioso: O pais ergue-se indignado, moureja o dia inteiro indignado, come, bebe e diverte-se indignado, mas não passa disto. Falta-lhe o romantismo cívico da agressão. Somos, socialmente, uma coletividade pacífica de revoltados”. Miguel Torga. - É parece que estamos melhorando.

http://apoesiaestamorrendo.blogspot.com.br/