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domingo, 23 de junho de 2013

O MAL DA POLÍTICA BRASILEIRA (Artigo)


Rangel Alves da Costa*


A cronicidade doentia do Brasil prolifera basicamente de dois focos principais: a ineficiência governamental em tudo que vá além das desavergonhadas políticas assistencialistas e a falência da política, por ato de seus representantes.
Acerca da ineficiência governamental basta citar a educação de péssima qualidade, mesmo com as mentiras veiculadas para falsear a realidade; a saúde na hora da morte, com hospitais sem médicos e doentes tratados na mais vergonhosa indignidade humana; a falácia no combate à pobreza e à miséria, vez que os programas assistencialistas apenas ocultam os graves problemas sociais que continuam se alastrando.
Contudo, se alargam as percepções que podem ser feitas a respeito da imoral política brasileira. Como o governo nasce de um processo político, na política se sustenta e por ela é, a um só tempo, envolvido e manipulado, logo se tem que é a política assoma uma importância fundamental na sobrevivência do país.
E quando ela está mal, desacreditada, corrompida, aviltada em seus preceitos, manipulada em nome de interesses escusos e servindo de sustentação a verdadeiros bandidos com mandato, então se demonstra sua face de mero e distorcido objeto perante o sistema político. E é tal sistema, carcomido e aviltante, que alimenta esse grande e malcheiroso lamaçal conhecido por todos.
E por que a política,  enquanto ato de governar, de administrar e cuidar das instituições públicas, bem como legislar e atender os anseios da população, se torna em algo tão perverso que passa a não mais atender os seus objetivos?
Só há uma resposta: os agentes políticos primordiais, que são os governantes e os parlamentares, negam o poder outorgado pelo povo e transformam a política num jogo de interesses pessoais ou passam a agir contrariamente aos anseios da sociedade.
A política, contudo, é o joio bom que é maculado pelas ervas daninhas avistáveis nos seus agentes. Em si, a política não tem culpa nenhuma se aqueles que agem em seu nome passam a enlamear seu conceito. Mas o fazem de tal forma que a descrença na política generaliza-se de tal modo que parte da população lhe nega qualquer valor.
Contudo, como afirmado, são os políticos e não a política que, com suas abomináveis ações, suas omissões e negligências, ou mesmo com o mau uso do poder outorgado, acabam transformando o país num antro de mazelas e aberrações. Os políticos usam a política para alcançar o poder; no entanto, ao invés de preservá-la enquanto sistema, passam a denegrir sua imagem com ações incabíveis perante o poder obtido.
Mas como não é fácil separar o joio do trigo, tudo que há de ruim no governo ou no legislativo é na política que recai a culpa. Neste sentido é que se pode falar num sistema político falido, na política descompromissada com as causas da nação, na política como meio para as práticas insidiosas tão conhecidas e noticiadas.
Na verdade, se há uma culpa na política esta será em abarcar, sob o seu nome, governantes e parlamentares que usam do poder para manipular, praticar arbitrariedades, achar que tudo podem porque possuem um mandato. E é a cegueira do poder a porta aberta para os abusos, as improbidades e os enriquecimentos ilícitos.
Desse modo, não há como não reconhecer que é no seio da política, através de seus agentes, que nasce a corrupção, o uso indevido de verba pública, a burocracia criminosa, a improbidade administrativa, o peculato, a formação de quadrilha; enfim, uma tipificação talvez maior que a contida no Código Penal e leis extravagantes.
E uma soma de fatores se reúne para desacreditar de vez a política. Pelo lado dos governantes reconhece-se desde a precariedade no exercício do poder à má gestão da máquina estatal. Mas no seu bojo se revelam ainda aspectos como autoritarismos, egoísmo governamental, distanciamento do povo e negação geral da sociedade.
Contudo, alguns fatores são característicos de governantes que transformam a política em objetivos muito distantes daqueles requeridos pela população. Assistencialismo para aceitação de camadas sociais; manipulação de dados educacionais e de assistência à saúde, de modo a transformar as ineficiências em algo de qualidade; a falta de objetivos claros e ações precisas no combate à miséria, à criminalidade galopante, às drogas. Sem falar na arrogância com que o povo é tratado nas suas mais justas reivindicações.
Pelo lado do parlamentar, seja ele senador, deputado ou vereador, o que se tem é o verdadeiro espanto da população ao perceber que o seu candidato de repente se transformou naquilo que há de pior na política. E não porque não faz nada, não produz, mas porque se envolve em falcatruas, corrupções e todos os tipos de aberrações políticas. Além da velha e conhecida mercantilização do mandato.
Para o parlamentar, logicamente numa considerável parcela, a política é apenas um meio onde a ilicitude é o fim. Tudo faz para obter o poder porque sabe que este servirá como escudo para a prática de ilícitos, para a manipulação e o exercício da influência arbitrária perante os órgãos. E principalmente para tornar o mandato num reinado atroz e imoral.
Somente o povo para combater, para extirpar os males da política, espelhando o que há de pior. Mas o povo, enfim, parece ter despertado. Já começou, através das recentes manifestações, a amolecer as raízes apodrecidas. Na verdade, não da política, e sim dos políticos que acabam transformando o Brasil num covil putrefato e cheio de ratos engravatados. Ou de laquê no cabelo.

  
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com    

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