SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sexta-feira, 8 de março de 2013

PALAVRAS SILENCIOSAS – 188


Rangel Alves da Costa*


“Menino fui...”.
“Menino sou...”.
“Menino sempre serei...”.
“Eternamente menino...”.
“Ao me perguntar se cresci...”.
“Digo que envelheci...”.
“Digo que caminhei...”.
“Digo que quase aprendi...”.
“Sobre a minha idade...”.
“Ora, a do menino e do homem...”.
“Ninguém é pela data que nasceu...”.
“Nem pelo tempo que viveu...”.
“Mas pelo que fez ou faz no percurso...”.
“Posso ter dez ou cem anos...”.
“Posso ser infante ou idoso...”.
“Tanto faz que olhem o semblante...”.
“Vejam a feição e pensem na idade...”.
“De nada vale imaginar meus mil anos...”.
“Posso ter menos...”.
“Mas tenho mais...”.
“Muito mais...”.
“Ou idade alguma...”.
“Apenas o tempo de ventre...”.
“No conforto da inocência maior...”.
“Mas já que pisei a terra...”.
“Vi, ouvi, senti...”.
“Então existo com uma idade...”.
“Mas não com a idade que pensa...”.
“Você não sabe, mas vou contar...”.
“Como vê, talvez não seja assim...”.
“Estou aqui, mas posso estar em outro lugar...”.
“Digo isso, mas falo aquilo...”.
“Não acredite, não confie no que vê...”.
“Pois neste momento...”.
“Piso no asfalto, mas corro descalço lá no sertão...”.
“Escrevo na agenda, mas estou soltando pipa com os amigos...”.
“Esse terno e gravata escondem o menino pelado tomando banho no riachinho...”.
“Entrar no mercadinho é disfarçar o que faço agora...”.
“Estou pulando quintais...”.
“Roubando goiabas e carambolas...”.
“Acariciando a manga para a gulodice...”.
“Não se engane. Sou eu, mas não sou eu...”.
“Estou longe, estou em outro lugar...”.
“Apostando corrida no cavalo de pau...”.
“Sendo fazendeiro de ponta de vaca...”.
“Brincando com boi de barro...”.
“Arremessando bola de gude...”.
“Traquinando feliz pela vida...”.
“Tanto eu menino, tudo eu menino...”.
“Porque menino sou...”.
“E menino sempre serei...”.
“Ainda que escondam minha lua namoradeira...”.
“E meu primeiro versinho de amor...”.
“Pense, pois, o que quiser...”.
“Tanto faz. Não vou ouvir mesmo...”.
“Nem aqui estou...”.
“Senão colhendo a flor do jardim...”.
“Para dar ao meu amor...”.
“Que está à janela...”.
“Linda, linda, linda...”.
“Com a doçura da infância...”.
“E do eterno desejo...”.
“De ser eternamente assim...”.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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