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domingo, 10 de março de 2013

ABSURDOS URBANOS (Crônica)


Rangel Alves da Costa*


Aracaju, tão propagandisticamente divulgada como a cidade da qualidade de vida, precisa ser urgentemente vista dentro de sua realidade pela administração municipal. É um erro tentar forjar uma imagem irreal, de cunho meramente turístico, quando diante dos olhos da população ressaltam verdadeiros absurdos.
O conceito de qualidade de vida possui grandes ressalvas perante a capital sergipana. E isto porque, historicamente, a tal qualidade sempre foi pensada com destinação certa. As qualidades naturais, destinadas aos turistas; as qualidades de infraestrutura urbana, destinadas à zona sul; e as qualidades do deus-dará, estas tão visíveis na zona norte e periferias empobrecidas.
Ademais, qualidade de vida não quer dizer absolutamente nada em termos da realidade vivenciada pela população. Se o marketing procura vender Aracaju como destino turístico, logicamente que as imagens apresentadas serão de encher os olhos. Mas a capital não é apenas para turistas, mas primordialmente para os seus habitantes. E estes conhecem bem da qualidade de vida – pois tudo qualidade de vida – existente segundo a distribuição das zonas urbanas.
Pretender dividir a cidade segundo as atratividades turísticas, as benfeitorias, as belezas apresentadas, a real qualidade de vida existente, é aspecto muito perigoso se considerado por uma administração, com qualquer prefeito que esteja de plantão. Ora, a cidade é um todo espacial, um complexo urbanístico cujas prioridades nas realizações de obras não devem sempre privilegiar determinados locais.
Verdade é que uma cidade não vive apenas de zona sul, de orlas praieiras e redutos da burguesia. A cidade é um todo, e como tal precisa ser administrada com melhorias indistintas.
Entretanto, são enormemente visíveis as diferenças existentes entre a chamada zona sul e a zona norte. Para ser mais preciso, a partir do calçadão da João Pessoa, da Rua Geru em diante, tudo parece renegado ao plano do tanto faz. Por conta dessa visão preconceituosa é que a cidade enfeia-se, se desorganiza, se transforma em descaso.
O próprio calçadão da João Pessoa já está sendo novamente tomado pelos camelôs. Depois de um período de fiscalização rígida e proibição de comercialização daquelas bugigangas e quinquilharias, agora já se avista, depois do entardecer, a movimentação dos vendedores espalhando seus produtos por toda a extensão das pedras portuguesas.
Por mais que se reconheça a necessidade daqueles comerciantes informais, não se pode admitir que o mais importante centro de comércio se transforme num favelamento comercial. Ademais, como os vendedores não estão nem aí para a limpeza, a imundície se espalha após o fim da feira. E ao amanhecer o centro ainda está completamente tomado pelo lixo.
Após a Rua Geru logo surge a visão catastrófica da Praça João XXIII, ou Rodoviária Velha. E eis o maior absurdo que possa existir num centro de capital. E é a partir deste local, seguindo para zona norte, que a outra qualidade de vida começa a mostrar sua verdadeira feição. Então a cidade se desorganiza, se enche de espanto, se mostra imunda, maltratada, esquecida.
É inadmissível que uma administração municipal continue pactuando com a situação apresentada pela Rodoviária Velha e adjacências. O Terminal Luiz Garcia apresenta problemas de monta. Sem segurança alguma, os passageiros diariamente são ameaçados por marginais e usuários de drogas que por ali transitam tranquilamente.
Mas os problemas não param por aí. A intensidade do fluxo de ônibus coloca em risco a segurança das pessoas que chegam ou passam. Mais adiante, ao lado, os veículos que fazem linha para o interior parando onde querem, circulando como desejam, tornando o local um verdadeiro caos. Sem falar nos botequins que estão instalados ao redor da praça e que são responsáveis pela maior sujeira que possa existir num centro de capital. Esgotos correm a céu aberto, restos de comida e de frutas são jogados em tonéis transbordantes, o lixo se acumula pelas laterais.
Andando mais um pouco, sempre em direção à zona norte, outra praça chama a atenção pelo absurdo em que se transformou. A Praça Godofredo Diniz, vizinha ao prédio do INSS, é local que afronta, a um  só tempo, a segurança pública e a paz social. Os jogos de apostas ali correm soltos, impunemente, a toda hora do dia. E as drogas também, sem falar nos assaltos continuamente praticados naquela região.
Outra demonstração do descaso de uma administração municipal pode ser avistada ao longo do canal da Avenida Airton Teles, precisamente o que delimita o centro da zona norte. Parece até coisa feita, mas a verdade é que nunca tomaram providências sérias para a limpeza do canal, para tirar o lixão que vergonhosamente se acumula. Não obstante a sujeira, as duas vias que o ladeiam são esburacadas, completamente deterioradas, numa esquisitice de espantar meliante.
Os problemas são tantos que somente um relatório para dar conta de pequena parte. Haveria de se falar nas ruas esburacadas, nas calçadas intransitáveis, nos abismos formados pelas caixas sem tampa. Sem esquecer o caos provocado pelos problemas na mobilidade urbana. Mas aí já se estende por toda a cidade.
Entretanto, não poderia ficar esquecida a destrambelhada engenharia de trânsito que foi levada a efeito no cruzamento entre a Rua Lagarto e a Av. Carlos Bulamarqui. Com as mudanças recentes no trânsito do centro comercial, acharam por bem transformar esse cruzamento num inigualável transtorno, tanto para motoristas como para pedestres e moradores.
Simplesmente colocaram duas direções de tráfego no último trecho da Carlos Bulamarqui, e assim o cruzamento ficou com três direções. E os carros se encontram vindo da Carlos Bulamarqui, indo também da mesma avenida, e ainda pela Rua Lagarto. Quer dizer, qualquer abalroamento que houver envolverá carros de três direções diferentes. E envolvendo taxis lotação, que sempre estão em alta velocidade.
Existe ainda o problema da... Mas ora, são tantos os problemas que só mesmo sensatez administrativa para minimizá-los. Enquanto isso, a qualidade de vida vai procurando sua razão de ser pelos bairros e vias sem jardins nem primaveras.
  

Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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