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quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

O MISTERIOSO G. H. (Crônica)


Rangel Alves da Costa*


Moreno, alourado, negro, albino, ninguém sabe ao certo sua cor. E também se é de estatura mediana, ou se é alto ou baixo. Do mesmo modo, impossível dizer se é jovem, velho ou apenas maduro. Também ninguém sabe se é gordo ou magro.
A única coisa que sabem a seu respeito é que é misterioso demais, talvez o mais misterioso dos seres humanos. Não há sequer certeza se é homem, mulher ou meio termo. Até o seu nome é envolto em mistério, pois denominado apenas G. H.
Mas G. H. são apenas iniciais e não quer significar absolutamente nada, até porque certamente o seu verdadeiro nome não se inicia com tais letras. Ninguém tão misterioso manteria suas iniciais verdadeiras. Mas por quê?
G. H. até poderia ter outro significado que não propriamente letras iniciais de um nome. Poderia ser, por exemplo, símbolos de uma seita: Grande Horror; a identificação secreta de um ser extraplanetário: Golumm Hiopi; ou as primeiras letras de uma organização terrorista: Genocidas Humanos. Não me atrevo a afirmar nada, principalmente porque pode ser até mesmo algo muito pior, extremamente horrorizante. Ou não.
E não porque não pode ser afastada a hipótese de que o misterioso G. H. seja totalmente diferente das insinuações feitas. E se for um ser do bem, uma pessoa boa, algo especial e importante na vida terrena, e que por sua ação diferenciada não pode ser conhecido ou identificado?
Daí que sob o véu de tanto mistério pode muito bem estar um anjo celestial revestido de humano. Também não é impossível que seja uma dessas almas bondosas que agem no anonimato, que parecendo invisíveis estão sempre presentes junto aos enfermos, necessitados, das pessoas mais carentes.
Contudo, o que soube ontem a respeito do misterioso G. H. me fez afastar essa possibilidade de ser bondoso que age às escondidas. Vou revelar: Confidenciaram-me, olhando para os lados e tomados de espanto, que a tal sombra misteriosa foi vista no meio da noite e, o que é pior e mais instigante, em muitos lugares ao mesmo tempo.
Perguntei como tinham certeza disso e a resposta veio ainda mais estarrecedora. Eis que um afirmou ter avistado uma figura de capa escura e chapéu entrando, sem precisar abrir o portão, à meia-noite no cemitério. Outro avistou, com as costas nos dois lados do corpo, sumindo num beco escurecido. Já outro jurou que caminhava por um beco escuro e correu ao perceber. Contudo, quanto mais corria mais avistava a figura em pé adiante.
Indaguei a este como conseguiu se livrar da perseguição e ouvi uma revelação descomunal: Repentinamente tomou coragem e resolveu não mais correr. Seguiu calmamente em direção ao que continuava um pouco mais à sua frente e, para seu espanto, o que encontrou foi uma velhinha perguntando se podia acompanhá-lo, pois estava com medo de andar sozinha àquela hora da noite.
E prosseguiu, dizendo que achou muito estranho ter encontrado a velhinha no lugar da misteriosa figura, mas ainda assim disse que poderia acompanhá-lo, mas antes perguntou de onde ela vinha no meio daquela noite tão medonha e escurecida. Então ela se voltou numa direção e apontou para um descampado. No instante não viu nada anormal nisso, mas depois, quando já andava ao seu lado, é que se deu conta da verdade.
Ora, prosseguiu o rapaz, logo lembrei que para o lado onde ela havia apontado, dito de onde vinha, só existia um cemitério. E novamente perguntou à velhinha de onde tinha vindo mesmo, ao que ela respondeu, numa voz um tanto cansada, que acabava de chegar do cemitério, lugar onde vivia enterrada já desde uns cinco anos. Mas estava ali porque precisava encontrar G. H.
Questionei sobre o que aconteceu dali em diante e ele respondeu que depois do que ouviu acerca do cemitério e de quem ela estava procurando não conseguia lembrar mais de nada, pois o medo foi tão grande que acabou desabando no chão. E quando acordou, não sabe como, mas já estava noutro lugar.
Achei deveras estranha essa conversa, essa medonha revelação. Como estranha também era a pessoa, que parecia falar tentando esconder o rosto. Não quis levar o assunto adiante porque não estava acreditando nem um pouco naquilo que ele disse. Aliás, em nada do que disseram a respeito do misterioso G. H.
Contudo, antes que fosse embora perguntei o seu nome. E ouvi: Glauceste Hipácio, mais conhecido também como... Mas não terminou de falar. Sumiu nas sombras. Será?
  

Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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