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terça-feira, 11 de dezembro de 2012

FRUTOS APODRECIDOS (Crônica)


Rangel Alves da Costa*


A costumeira expressão “quem vê cara não vê coração” possui a sua razão de ser. Geralmente é assim mesmo que ocorre, pois quem julga pela aparência poderá se arrepender quando experimentar da parte interna, do cerne, do âmago.
As frutas são exemplares neste sentido. A melancia que se mostra de um verde viçoso por fora, toda bonita e atraente, não suporta um corte para que seja jogada aos porcos. A goiaba madura, amarelinha, cheirosa, pode estar toda bichada por dentro. Quando maçãs apresentam partes amolecidas na casca nem adianta adquiri-las ou mordê-las. Lá dentro estarão estragadas.
E com pessoas, com gente, com isso que tem nome e sobrenome e que se tem como ser humano, será assim também? Até porque as aparências realmente enganam, presume-se que é muito maior a chance de encontrar frutos intimamente apodrecidos do que se poderia imaginar. Ora, o que mais se tem por aí são lobos vestidos em pele de cordeiro.
Nesse mercado que é a vida, nesse vão de feira de frutas em que cada um é forçado a compartilhar, dificilmente se encontra uma fruta que seja realmente proveitosa na casca e na carne, na pele e na polpa, por fora e por dentro.
O fruto até que é bonito, vistoso, possui boa apresentação e logo chama a atenção. Tem gente de mais experiência que basta se aproximar um pouco mais, olhar com mais atenção pra logo deixar de lado. Não vale nada, diz a si mesmo.
Por isso mesmo é que os sorrisos, os afagos, as aparências boas, os enfeites e os adornos que colocam por cima para autovalorização, pouca serventia terão quando o exterior começar a ser revelado ou a máscara simplesmente cair. Senão pelos atos e fatos, pelas revelações que vão sendo obtidas ou pelo caráter que vai se desnudando aos poucos, não é nada fácil conhecer os mestres do fingimento.
É realmente muito difícil andar e se manter precavido contra esse tipo de pessoas, aquelas cuja aparência interior é totalmente inversa a que se está mascarando por fora. A falsidade, todo mundo sabe, é a maior das amigas, a mais agradável, a mais cativante, a mais preocupada com outro, porém só até obter o que deseja e dar a rasteira que bem entender.
Como a pessoa falsa não é fácil de ser prontamente reconhecida, do mesmo modo o são aquelas fingidas, covardes, mentirosas, dissimuladas, que sempre agindo camufladas pelas boas intenções que sempre demonstram ter. São pessoas perigosas demais, hábeis, astutas, que agem com premeditação e sabem muito bem cada passo a dar até obter a confiança do indivíduo e depois destroçá-lo completamente.
Nas famílias, determinados parentes são assim também. Tanta proximidade, tanto afago, mas tudo com abjeta intencionalidade. Simplesmente destruir assim que obtiverem elevada confiança e conhecerem segredos e revelações. Daí em diante começam a guardar cartas na manga e mostrar que dali em diante quem dita a realidade são elas, que tudo tem de ser como elas desejam.
Se isso acontece em pleno seio familiar, então se imagine perante pessoas que não têm o mesmo sangue, não se apresentam como amigas duradouras ou que estão na esfera do apenas conhecido ou desconhecido.
O outro já olha sorrindo e intimamente pensando como tirar qualquer proveito. Cada um que é apresentado, abraçado, oferecido diálogo e receptividade, não estará lidando nada mais nada menos do que um verdadeiro inimigo.
Ora, a pessoa dificilmente presta para a outra, é agradável, merece confiança e respeito. Na maioria das vezes, a feição que se alegra e se mostra feliz já está, intimamente, maquinando o rebaixamento do outro à esfera do nada.
Se for político, intimamente tendo o eleitor por idiota; se for amigo aparente certamente estará falando mal de sua roupa, de sua sandália, qualquer coisa que o desqualifique; se for simplesmente outra pessoa, não será difícil que surjam de uma só vez todas as invejas, todas as maldades, todos os desejos ruins com relação ao que está ao seu lado.
Infelizmente a estrada que tem de ser percorrida é ladeada por labirintos e dentro deles estão as feras prontas para o ataque. Se houvesse ao menos constante probabilidade desse ataque, então seria muito mais fácil de a pessoa se precaver, se armar contra os inimigos.
Mas não, pois as feras se transformam em plantas inofensivas, em flores e ficam sempre ao alcance. Basta colher um ramo e seguir adiante e estará levando o seu algoz. Infelizmente assim é a vida, uma feira de vaidades e seus frutos apodrecidos.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

Um comentário:

Unknown disse...

Olá, Rangel! Estava procurando uma foto para ilustrar uma postagem do meu blog e encontrei o seu "sertão". Adorei o seu blog e vou adicioná-lo ao meu. Visite o meu blog e, se gostar, adiciona ao teu também. O domínio atual é http://novohiperestesia.blogspot.com.br/
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Um abraço!
Hamilton