SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



segunda-feira, 26 de novembro de 2012

PALAVRAS SILENCIOSAS - 86


Rangel Alves da Costa*


“Eis que de repente surge a poesia na palavra...”.
“E sempre de um singelo coração...”.
“Verdade. Não é qualquer boca que tem o dom da sublime expressão...”.
“A voz se nega a ecoar...”.
“A doçura se nega à expressão...”.
“Quando sabe da inverdade do que vai ser dito...”.
“Por isso mesmo que são raras as palavras poéticas...”.
“E vem o enamorado e diz...”.
“Que sorte a tua sina de existir tão belamente...”.
“E vem o poeta e diz...”.
“Perdi a palavra na folha de outono...”.
“E vem a solitária e diz...”.
“Tudo e tanto nada nesse raso tão profundo...”.
“E a voz do sábio...”.
“Apenas sou a semente que semeei...”.
“E a voz do filósofo...”.
“Porque vivo, porém não sei ainda se existo...”.
“E o profeta diz...”.
“Hoje é o amanhã, pois este não haverá sem a construção de agora...”.
“E vem a criança e diz...”.
“Vou entrar na bola de sabão e soprá-la até a nuvem...”.
“E vem o menino e diz...”.
“Não quero crescer se o meu brinquedo não crescer junto comigo...”.
“E vem a velha para dizer...”.
“Nada tem mais feição do que a inocência do vento...”.
“E ouve-se a voz do velho...”.
“Cancela e vida é tudo a mesma coisa, principalmente quando se tem uma curva adiante...”.
“E a voz do padre...”.
“Muitas vezes é até pecado falar em pecado...”.
“Ao que a beata acrescenta...”.
“Pensar no pecado é trazer à mente a coisa pecadora...”.
“E diz o suicida...”.
“Queria ter duas vidas...”.
“E diz o moribundo...”.
“Guardem os relógios, os calendários, fechem as portas do tempo...”.
“Diz o carteiro...”.
“Seu nome não está escrito, mas essa carta é sua. Conheço pelo olhar...”.
“E diz a meretriz...”.
“Nem tudo é doação quando se tem algo em troca...”.
“E ouve-se a voz do magistrado...”.
“Depois de tanto viver, minha caneta o sepultará...”.
“Diz o professor...”.
“Pelo que aprendem, melhor nem ensinar...”.
“Diz o anjo...”.
“Dou apenas a ideia, não coloco seus passos em nenhum caminho...”.
“E diz o mendigo...”.
“Dê-me apenas a metade do que ontem me foi negado...”.
“Diz o viajante...”.
“Se não levar a saudade na mala, não volta...”.
“Diz a viúva...”.
“Ele era tão bom, mas este ainda está vivo...”.
“E diz o desempregado...”.
“Qualquer coisa me serve...”.
“E diz solteirona...”.
“Triste sina: namoro uma janela e nem sei se vou casar com a lua...”.
“E diz o poetinha de bar...”.
“A dose já devia chegar acompanhada de caneta e papel...”.
“A palavra do jardineiro...”.
“E minha namorada pede tanto uma flor...”.
“E diz a apaixonada...”.
“Sou órfã do coração...”.
“E pergunta quem bate à porta...”.
“É bom ficar debaixo de chuva?”
“E a última palavra dita...”.
“Noite sem lua!...”.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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