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domingo, 25 de novembro de 2012

PALAVRAS SILENCIOSAS - 85


Rangel Alves da Costa*


“Rime comigo uma coisa bonita...”.
“Mas não sou poeta, não sei rimar. Além disso...”.
“Já sei, vai dizer que prefere o poema branco...”.
“Isso mesmo, sem formalismo métrico, sem rima...”.
“Mas acho que perde o brilho, a voz do poema...”.
“Depende do escrito...”.
“Também é muita frescura...”.
“De quem?”.
“Dos críticos, da teoria literária, dos estudiosos da língua...”.
“Concordo. Exigem perfeição, inventam regras...”.
“Dizem como deve ser ou não ser a poesia...”.
“Mas não sabem escrever um só verso...”.
“É o academicismo interferindo na criatividade...”.
“E sempre para prejudicá-la...”.
“Mas o pior não é nem isso...”.
“O que concebe como mais alarmante?”.
“A crítica que impõe a fama, diz quem deve ter sucesso ou não...”.
“Inventa rebuscamento e requinte em poetas de meia tigela...”.
“Endeusam poeticamente quem não vale absolutamente nada...”.
“Lembra do caso Mário Quintana?”.
“Sim, um poeta magistral renegado pela crítica...”.
“E sabe o motivo?”.
“Simplesmente por ser autêntico poeta...”.
“Isso mesmo. Enquanto outros buscavam a rima e métrica perfeitas...”.
“Ele se preocupava apenas em transmitir mensagens através de sua poesia...”.
“Daí que muitas vezes chamado de poeta menor, infantil, cotidiano demais...”.
“Mas Bandeira também era cotidiano demais, socialmente engajado...”.
“Mas fazia parte de círculos literários, de grupos poéticos...”.
“Diferentemente de Quintana, que preferia sua solidão sulista ao lado de seus gatos de estimação...”.
“E talvez por isso mesmo nunca foi aclamado pela Academia Brasileira de Letras...”.
“Lógico, os críticos não deixavam...”.
“E o troco veio com Drummond...”.
“Bajularam tanto o poeta itabirano para que aceitasse vestir fardão...”.
“Mas ele pensava o contrário...”.
“Nunca disse, mas tenho certeza que só aceitaria se a maioria daqueles enfadonhos imortais saísse de lá e deixassem as cadeiras para quem realmente merecia estar...”.
“Ele, Quintana e tantos outros...”.
“Na maioria das vezes, a Academia se comportou vergonhosamente na escolha de seus membros...”.
“Hoje acontece ainda pior...”.
“Levam “Marimbondos de Fogo”...”.
“Jornalista da família Marinho...”.
“Políticos, gente que jamais escreveu qualquer obra de relevo...”.
“Mas ali também um centro político, e onde há política a coisa é malcheirosa...”.
“E voltando à poesia, me enoja o tratamento dado pela crítica literária...”.
“Elogia a insignificância...”.
“O absurdo, o nada...”.
“Contudo, há muito por trás disso...”.
“Lógico. A defesa dos interesses das editoras, dos autores e outras baboseiras mais...”.
“Ocorre assim também na literatura...”.
“Pelo amor de Deus, não me venha com o tal do leite derramado...”.
“Vou sim, pois não aceito que dêem o Prêmio Jabuti ao nome de uma pessoa, e não pelo valor da obra...”.
“Mas o Jabuti virou até motivo de piada...”.
“É uma verdadeira vergonha...”.
“Nem adianta autores iniciantes inscreverem suas obras...”.
“Ainda que sejam romances magistralmente trabalhados...”.
“E não porque o prêmio já tem dono...”.
“Pelo nome do autor e não pela obra em si...”.
“É uma vergonha...”.
“Está falando do Brasil?”.
“Também, também!”.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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