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quinta-feira, 1 de novembro de 2012

PALAVRAS SILENCIOSAS - 61


Rangel Alves da Costa*


“Eis uma bela canção...”.
“Mas não ouço nada...”.
“A do silêncio...”.
“Mais uma suave melodia...”.
“Da brisa, do vento...”.
“Do tempo, do pensamento...”.
“Da saudade, da distância...”.
“Do ontem, do passado...”.
“E de agora também...”.
“É sonata ou noturno...”.
“Talvez uma valsa vienense...”.
“Música clássica é quase silêncio cantante...”.
“É o próprio silêncio em prelúdio...”.
“Ouvi-la é alçar voo...”.
“Nas asas Bach, Brahms, Tchaikovsky...”.
“Na revoada de Schumann, Strauss, Mozart...”.
“Ou no horizonte de Chopin, Beethoven, Lizst...”.
“Admiro especialmente Offenbach...”.
“Barcarolle...”.
“Bracarolle é voo, viagem, singrar levemente...”.
“Sempre que a ouço me transformo...”.
“A música tem esse dom...”.
“Mas essa especialmente. O espírito vai acompanhando o compasso da melodia...”.
“Dizem que retrata um suave passeio de barco, em águas mansas, ao entardecer...”.
“Mas sentimos isso. Tal viagem nos é provocada...”.
“Do mesmo modo passear pelo jardim primaveril de Vivaldi...”.
“Realmente, das Quatro Estações, A Primavera é a mais bela...”.
“E retrata com fidelidade os encantos dessa estação...”.
“Vivaldi consegue dar aroma, perfume, cor, verdadeira visão da primavera florida...”.
“E tudo isso chega ao nosso pensamento como um passeio...”.
“Como se estivéssemos passeando entre as flores alegres...”.
“E o que sente ao ouvir Bach e a sua genial Jesus, Alegria dos Homens?”.
“A religiosidade proposta faz a música superar tudo...”.
“E nela encontro anjos, igrejas, a sacralidade, a fé...”.
“Mosteiros, catedrais, as vozes em coro, ar leve que se dissipa inebriante...”
“Permite ao homem contato com o sagrado...”.
“Vejo a face de Deus, as asas dos anjos, as auréolas dos santos...”.
“Permito-me ser a nave das catedrais, as velas flamejantes, a missa em latim...”.
“E nos enche o espírito de uma paz infinita...”.
“Porque somos muito carentes...”.
“De tudo...”.
“E muitas vezes somente a boa música para nos fortalecer...”.
“O que a música clássica tantas vezes nos possibilita...”.
“Uma viagem pelo Danúbio, aquele todo azul...”.
“Citando Fernando Pessoa, o Danúbio era o rio que passava pela aldeia de Johann Strauss II...”.
“Cortando os alpes vienenses...”.
“Dançando suavemente ao lado do lago...”.
“No Lago dos Cisnes de Tchaikovsky...”.
“Ao lado do Cisne Branco, amorosamente entristecido...”.
“Pelas maldades do Cisne Negro...”.
“Mas o amor sempre vence...”.
“Mesmo que seja apenas para dizer que não foi derrotado...”.
“Nem tudo possui um final feliz...”.
“Restando somente a dádiva maior de ter amado...”.
“O silêncio e o espanto...”.
“Há uma música assim...”.
“Imagino qual seja esse irromper estonteante...”.
“Isso mesmo, Carl Orff e seu O Fortuna, da ópera Carmina Burana...”.
“Genialidade de composição...”.
“Algo a ver com o tropel de repente surgido na Cavalaria Rusticana...”.
“De Mascagni...”.
“Mas prefiro ainda a suavidade...”.
“Os Noturnos de Chopin?”.
“Músicas ao cair da tarde...”.
“Entrar na noite e fazer sonhar...”.
“Com uma vela acesa...”.
“Uma taça de vinho...”.
“E nossa viagem...”.
“Prelúdios do coração...”.
“Cantatas da alma...”.
“Algum prazer nessa vida!”.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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