SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sábado, 27 de outubro de 2012

PALAVRAS SILENCIOSAS - 56


Rangel Alves da Costa*


“Janela aberta, vento soprando...”.
“Saudade?”.
“Não há como não viajar em momentos assim...”.
“Parece que o momento abre gavetas, estantes, baús...”.
“E surgem as cartas, as fotografias...”.
“As lembranças antigas, as joias de outro tempo...”.
“Os relicários, os segredos...”.
“As faces e as feições em pequenos escritos, em pedaços de papel...”
“Tudo tão presente um dia...”.
“Agora tudo amarelado, turvo, opaco, apagando...”.
“Talvez como a testar nossa memória, o nosso compromisso com o passado...”.
“Simplesmente esquecer tudo, num deixe pra lá...”.
“Mas impossível acontecer assim...”.
“Não possuímos apenas nome e sobrenome, mas nomes e sobrenomes...”.
“Isso mesmo, e tudo numa linhagem distante...”.
“Numa herança familiar que não se pode negar...”.
“Ora, somos o agora por causa do ontem...”.
“E no ontem a geração que foi semeando...”.
“E brotando, criando raízes, espalhando a semente...”.
“Grão a grão desde muito distante...”.
“E que colheita difícil, numa luta de toda a vida...”.
“E tudo para que existíssemos...”.
“Por isso não devemos relegar essa história...”.
“A nossa história e a história familiar...”.
“Tudo como um livro...”.
“Livro e álbum...”.
“Vidas e feições...”.
“E somos páginas desse livro...”.
“Apenas uma para cada um...”.
“Mas que escrevemos no nosso verso aquilo que desejamos na página seguinte...”.
“Sim. Na página que nos cabe passamos a escrever nossa história...”.
“Uma história a partir do já existente e do que desejamos dali em diante...”.
“Uma história que diz sobre nossa luta pela sobrevivência...”.
“Nossos amores e desamores...”.
“Conquistas e temores...”.
“Do encontro perfeito...”.
“Do primeiro olhar...”.
“Do primeiro beijo...”.
“Do primeiro abraço...”.
“E das mãos que se deram para seguir pela estrada...”.
“E a estrada com outros caminhantes...”.
“Já presentes nas outras páginas do livro...”.
“Nossos filhos...”.
“E mais tarde nossos netos...”.
“E o livro familiar se avolumando...”.
“Que bom que tal livro jamais fosse esquecido...”.
“Abandonado, renegado, e até rasgado...”.
“Ao abri-lo, lá pelas primeiras páginas, tudo tão diferente...”.
“A vida noutros tempos...”.
“Nossos antepassados com suas mentalidades...”.
“E folheando as páginas seguintes vão surgindo as mudanças...”.
“Tal qual mudam as gerações, os pensamentos, as ideias...”.
“Mas tudo numa narrativa que se entrelaça...”.
“Porque o livro somente será compreendido a partir do início...”.
“De onde tudo nasceu...”.
“E somente assim ser possível compreender o presente...”.
“Que tipo de literatura seria esse livro familiar?”.
“Biografia, talvez...”.
“Memorialismo...”.
“Romance épico...”.
“Uma grande fábula da existência...”.
“Não, haveremos de encontrar estilo mais adequado...”.
“Sim...”.
“Uma sagrada escritura...”.
“Sim, o Gênesis...”.
“A nossa Criação...”.

  
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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