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quarta-feira, 19 de setembro de 2012

FRONTEIRA (O LIMITE ENTRE A VIDA E A MORTE) (Crônica)


                                    Rangel Alves da Costa*


O que é a vida? O que é a morte? A vida terrena deixa de existir com a chegada da morte, mas tudo se resumiria apenas num ser que é e num instante já deixou de ser?
O fim da vida é o começo da morte, ou haveria uma fronteira, um limite litigioso nessa difícil linha? No exato ponto dessa linha divisória, onde ainda há vida e também já é morte, haveria alguma manifestação de ambos os lados?
Quando alguém afirma que o outro acabou de morrer, poderia também garantir que aquela morte já estaria consumada, levando-se em consideração que há um ritual de passagem desse mundo para o outro?
Quando a vida, através do espírito, deixa o corpo, já teria dado um pulo para chegar ao outro lado? Ou quando o espírito chega bem em cima da linha fronteiriça já perdeu toda a essência da vida passada?
Se esse limite, essa linha fronteiriça, fosse como uma cortina separando a vida e a morte, e tendo-se ciência do que seja a vida e o que seja a morte, pois cada uma de um lado, resta a indagação mais importante: o que seria essa cortina, como ela seria, qual a sua essência?
Mas vida, o que é a vida? Dizem que é o período ou condição de existência do ser humano, quando persiste a união da alma com o corpo. É o estado de quem está vivo, é a força caracterizadora da duração do ser humano, até que a morte o conduza e no seu lugar permaneça apenas a alma, se for considerada a sua imortalidade.
E a morte, o que será a morte? Será o fim da vida ou algo separado em si mesmo, como o estágio de repouso da alma? Dizem apenas que é o ato ou o fato de morrer, o termo da existência, a cessação definitiva do ser humano enquanto pessoa corporal. Ou será apenas o outro lado da existência, vez que o existir humano possui dois lados: a vida e a morte?
Mas por que o existir humano possui dois lados, sendo um a vida e o outro a morte, quando muitos impõem uma absoluta separação entre as duas situações? Ora, se a alma e o espírito continuam presentes tanto numa como noutra situação, então é porque se manifestam eternamente. Neste sentido, não haveria separação entre a vida e a morte.
Mas mesmo que haja separação entre a vida e a morte, o que representa a cortina, a linha tênue, que separa os dois lados? O que significa, na existência imortal da alma, estar em cima dessa fronteira, nem para mais um lado nem para o outro, mas exatamente no ponto onde tudo se mistura e converge?
Difícil responder tal questionamento, principalmente se for considerado que tudo que passa de um estágio a outro tem que ultrapassar uma fronteira. E a alma ou o espírito, que é o próprio corpo oculto ou em estágio imaterial, não tendo olhos que mirem somente adiante, certamente estará diante, a um só tempo, da vida e da morte.
Com a possibilidade de vivenciar ao mesmo tempo essas duas fases – pois no seu limiar final e inicial -, e considerando que a alma e o espírito se tornam a vida humana após a morte, então haveria de se considerar também que o que se tem como corpo humano é apenas uma roupagem usada durante a sua existência.
O ser vestido despe-se para a morte, mas esta não tem o poder de reclamar de ninguém a vestimenta. Apenas a força imaterial, presentes na alma e no espírito, pode se arvorar da condição de verdadeira dona do ser humano. E por ser assim, não há separação imediata entre a vida e a morte.
Nem no momento da passagem nem logo depois. Ao deixar de respirar e se posicionar em cima da fronteira para ultrapassá-la, o espírito ainda estará vivaz dentro do corpo. O apego ao ser humano é tão grande, que somente quando sentir a necessidade de cuidar do novo destino é que se estenderá adiante da fronteira. Dará um passo além do limite, e consigo levará aquele que merecer.
Mas ainda assim retornará à vida. Onde, aliás, jamais deixou de estar.

  

Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com
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