SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



segunda-feira, 20 de agosto de 2012

VIAGEM À MINHA TERRA (Sexta parte)


                                                Rangel Alves da Costa*


Andando de canto a outro pelo Bairro São José, quando mais o tempo passava mais as portas começavam a se abrir, pessoas mostrarem as feições, crianças iniciando as lides das reinações. Mas tudo ainda muito tímido, muito vagaroso, aquela monotonia própria de povoação interiorana ao amanhecer. Sem contar que era manhã de domingo, dia dedicado ao recolhimento e descanso maiores.
Caminhando por ruas calçadas, de pavimentação recente, ainda em bom estado na maior parte, fiquei surpreendido ao encontrar chão batido logo numa das ruas de acesso à clínica da família. Verdade é que faltou à administração municipal a mesma preocupação que teve em relação ao hospital nas proximidades do Bairro Lídia. Ali, o acesso pelo lado direito de quem vai está asfaltado na maior parte, ainda que a dita malha não passe de borrasca dura.
A clínica é de recente inauguração, ainda estando com o prédio bem conservado e de atraente visualização. Não sei nada da estrutura interna, dos seus equipamentos e da equipe profissional e funcional simplesmente porque estava de portas completamente fechadas. Não avistei sequer um vigilante, não senti nenhuma movimentação. Diferentemente do que avistado no hospital, cuja movimentação já era observável ainda que ao alvorecer.
Dois aspectos principais me despertaram a atenção no São José, além de outros que já citei em linhas passadas. O primeiro diz respeito à praça belíssima que recentemente foi construída e inaugurada, equipamento de lazer e de valorização do núcleo habitacional, mas que já está sendo alvo de depredadores, de vândalos, de gente (talvez ali mesmo do bairro) que sente prazer em destruir o que há de melhor no seu lugar.
Não sei bem a dimensão do malfeito já provocado na praça, eis que achei encantadora no estado em que encontrei. Contudo, conversando com moradores ouvi que era ainda mais bonita, mais organizada, mais atrativa, possuindo até grama nos canteiros, mas que já nem parecia mais com aquela em virtude da ação de verdadeiros marginais que chegam ali após o anoitecer – e também à luz do dia – para depredar, destruir, enfear um bem público tão importante para a comunidade.
E mais uma vez senti a irresponsabilidade do poder público diante daquilo que constrói. Gasta verdadeira fortuna, ergue uma majestosa obra, mas simplesmente esquece-se de proporcionar a devida manutenção para que o bem seja preservado. Ouvi de um morador que a prefeitura não fazia reparos nem cuidava porque a praça havia sido construída pelo governo. Mas ora, meu Deus, não tem nada a ver, pois uma vez inaugurada, a manutenção e conservação da obra passa a ser de responsabilidade também do município. Uma co-responsabilidade ou responsabilidade subsidiária, solidária.
Ouvi também reclamações sobre a falta de maior vigilância, não só no período noturno, mas durante todo o dia, bem como acerca da necessidade de fazer os reparos necessários naquilo que já sendo deteriorado, antes de ser tarde demais e a destruição se alastre e acabe completamente com o construído. Quanto a isto não há o que se falar, a não ser lamentar sobre a nefasta política de conservação das ruas, praças e outros equipamentos.
É uma verdade muito simples: se construo e não mantenho, o que fiz vai ser deteriorado, vai cair, vai ser completamente destruído. Se pretendo conservar, tenho que reparar onde surjam os primeiros sinais de problemas. E ir reparando sempre, consertando, conservando, para que mais tarde não tenha que refazer tudo de novo porque o que fiz e não cuidei já está em estado de imprestabilidade. É uma lição básica para a administração e deve ser considerada não só em relação à praça do São José mas em todo o município de Nossa Senhora da Conceição de Poço Redondo.
Outro aspecto que me despertou especial atenção diz respeito à igreja católica existente num dos lados dessa mesma praça, mais precisamente na parte detrás. Nada que diga respeito ao seu interior nem a fachada. Logicamente estava fechada àquela hora da manhã e não pude entrar para fazer o que sempre gosto quando entro em templos católicos: sentir o silêncio cortado pelo som dos anjos voando, conversar com o meu Deus por todo lugar, sentir a presença dos santos, sentir a reflexiva paz celestial. O fato é outro.
Creio não ser admissível que dentro do muro baixo que rodeia a igreja aja tanta planta rasteira, tanto descuido, tanta desorganização. O espaço é amplo, e uma vez limpo e bem cuidado bem que poderia ter proveitosa destinação. Vi ali como local ideal para a construção de uma biblioteca, no mesmo espaço onde os jovens poderiam se reunir para conversar sobre assuntos religiosos, familiares, ou mesmo aqueles que fossem colocados em pauta pelos grupos de trabalho.
Ao lado da mesma praça fica um barzinho, dentre outros, que àquela hora do dia já estava recebendo clientela. Umas sete ou oito pessoas já proseavam e lá dentro, sobre o balcão a prova da farra iniciada logo cedo. Aguardente, casca de pau, pinga da boa ao gosto de quem gosta, mas talvez em horário posterior, e não àquela hora. Como já conheço esse processo de bebedeira em barzinho afastado, onde a “meiota” faz a alegria da moçada, logo tratei de fazer minha parte e destinar um trocado para a próxima “rodada”. Difícil de compreender e aceitar para uns, mas é cultural que isso aconteça, e sempre assim, nas povoações interioranas.
No dia seguinte, no mesmo horário, segui em direção ao outro lado, rumo às redondezas do hospital, às novas moradias ali construídas, ao Bairro Lídia e adjacências. Ao adentrar às primeiras ruas logo se observa algumas diferenças: em muitos lugares as construções são mais amplas do que aquelas do São José, muitas casas estão erguidas em espaços amplos, os quintais são maiores e a presença do verde se sobressai com mais intensidade.
Talvez as condições econômicas de alguns moradores daquela região do hospital sejam melhores do que daqueles do São José. Isto é observável não só por algumas moradias mais portentosas ali existentes, mas também pelo comércio instalado, os veículos guardados em garagens, um certo aspecto diferencial difícil de delimitar. Encontrei, por exemplo, uma panificação e lanchonete próximo ao hospital digna de estar no centro da cidade, de tão bem cuidada, sortida e atraente.
 Não há nesta região uma praça igual a do São José, mas há uma pracinha também muito simpática, mas já passando pelos mesmos problemas existentes na outra. Aliás, em Nossa Senhora da Conceição de Poço Redondo, ao menos na sede, não há uma só praça que não precise de reparos urgentes, quase de total reconstrução. A principal delas é a Praça da Matriz, que de praça só tem o nome. Ou se constrói uma praça de verdade ou muda logo o nome para Mercadão da Imundície.
Continua...



Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com
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